Capítulo 02



Outubro...

Priscila apertou aquela campainha e aguardou. Olhou para o espelho que ficava no corredor e até riu do olhar curioso que Pedrinho fazia. Tatiane abriu a porta e logo tomou o pequeno dos braços da amiga. Enquanto entravam ela podia ver aquela mesa do centro da sala com guloseimas, bebidas, uma música calma e uma péssima lembrança se fez presente dentro de si.

Como não recordar daquelas semanas antes do seu casamento na igreja onde beberam muito e a verdade saiu? Ainda tinha em sua mente as frases soltas por Tatiane e Renata naquela fatídica noite. Acordou dos pensamentos com Maya e Renata batendo palmas todas felizes.

_Eu tava morrendo de saudade - Maya tomou o pequeno dos braços de Tatiane - Oi pequeno lindo da titia. Tudo bem?
_Hoje vocês tem uma missão... - Priscila falou enquanto colocava a bolsa dela e a pequena malinha do filho onde carregava tudo o que precisava, no sofá. - Façam de tudo para ele não dormir.
_Ai que missão maravilhosa! - Renata segurou Pedrinho e logo sentou-se no tapete - E aí, bendito sois entre as mulheres, trouxe os brinquedos para brincarmos?

Em poucos minutos a sala de Tatiane, que nos dias normais era tão impecável e calma, se tornou em um hotelzinho infantil. Vários brinquedos soltos no chão, Pedrinho gritando nos braços de Priscila, as amigas bebendo e colocando o papo em dia:

_É, parece que foi uma eternidade a última vez que vocês vieram aqui - Tatiane bebeu seu shot de tequila de uma vez, deixando Priscila com receio.
_Boba e dramática - Renata rolou os olhos enquanto respondia - A última vez que vim foi em agosto.
_Eu sei que estou em falta com vocês - Maya naquela noite estava apenas no refrigerante por saber que no dia seguinte um plantão lhe esperava no hospital - Mas meu dia se divide em metade Bruno, metade minha profissão.
_Já que estamos falando aqui da sua profissão quando teremos a honra de ter mais um sobrinho, Pri?

Priscila estava empolgada no filho até sentir as atenções voltadas para ela.

_Me tirem dessa. Voltei a transar com o Victor, mas acabei de parir. Deixo isso para a Renata.
_Nem contem comigo para isso. Nem sei se quero ter filhos.
_Mas quando casamos pensamos logo em formar uma família - Maya interveio.
_Uma família pode ser formada por um casal e cachorros.

As quatro riram escandalosamente, arrancando atenção de Pedrinho para elas.

_Mas já que iniciamos o assunto casamento, vamos lá - Renata olhou para Tatiane - E os preparativos para o casório, Tati?

Pela primeira vez Priscila notou a amiga lançar um olhar triste para sua vida. Tatiane queria evitar tocar no assunto naquela noite, até optou por beber a caipirinha que estava ali antes de iniciar o assunto.

_Vocês vieram hoje para falar das suas vidas, não da minha.
_Não. Eu vim para o evento de amanhã do Leo, mas como sei que não teremos a mínima condição de falar sobre papo feminino lá aqui estou agora.
_Evento esse que eu não estarei - o tom de voz de Tatiane mais uma vez saiu arrastado.
_Oi? - Maya indagou com um olhar - Amor, amanhã será o evento e você simplesmente não vai? Não é a empresa de vocês que irá fotografar? - Olhou para as duas.
_Sim, eu e o Cadu escalamos os melhores fotógrafos, mas não poderemos ir por motivos de que teremos uma reunião lá na igreja com o padre.

Enquanto Tatiane explicava mais uma vez o motivo da sua ausência e as demais emendavam um assunto ao outro no decorrer da conversa, Priscila seguia achando estranho aquela tristeza no rosto da amiga. Era óbvio que nada ia bem naquele relacionamento. Pedrinho já estava choramingando querendo ir para casa quando ela entrou no assunto que conversavam e se despedia:

_O assunto está ótimo, mas preciso levar meu mascote para casa.
_Ai não, miga. Fica mais um pouco - Pela voz embolada Priscila sabia que Tatiane já estava bêbada, o que lhe fazia mais uma vez lembrar da noite onde soube da traição.
_Não posso. Esse é o lado negativo e vida de casada e mãe - Colocou o filho nos braços de Maya enquanto recolhia os brinquedos e os colocava de volta na malinha - Você não tem vida social.
_E amanhã. Vai levá-lo? - Maya indagou.
_Eu queria, mas Victor optou por não querer.
_O Victor cada dia mais paranoico - às vezes aquela intimidade que Renata tinha com Victor incomodava um pouco Priscila - Ele me contou sobre não querer expor, que o filho seria visto por fãs. Quanta bobagem né?
_Nem me fale - colocou as alças da bolsa e da bolsinha de Pedro envolvidas no ombro para pegá-lo dos braços da amiga - mas ele é pai, então tem todo direito de decidir. Bom, preciso ir.
_Eu te levo até o carro - Maya se ofereceu.

Priscila despediu-se das amigas e antes de sair pediu para Renata tomar conta de Tatiane naquela noite.

_Pode ir na paz, Pri. Vou fazê-la dormir e como vou dormir aqui também logo limpo tudo isso aqui com a ajuda da Maya.

Desceu acompanhada da amiga médica. Já no estacionamento Maya iniciou um assunto que lhe corroía por muito tempo:

_Está difícil, não é?
_O quê? - colocou o filho na cadeirinha no assento traseiro do carro.
_Parece que você fica receosa cada vez que nos encontramos.
_Imagina - tentou disfarçar.
_Não, Pri. Eu sinto o quanto você ainda ficou chateada com a Tati e a Rê.
_Talvez - fechou a porta traseira e olhou para aquela rua calma por conta do horário. - Eu sinto que vai passar, mas ainda dói.
_Isso vai passar porque você tem uma luz linda aqui dentro - tocou no peito esquerdo dela - Só não deixa nossa amizade se abalar.
_Fica tranquila, amiga - abraçou Maya - Agora preciso ir. Até amanhã.

Enquanto se dirigia para casa Priscila ficou pensando em o que Maya havia falado. Aquela péssima lembrança a deixou incomodada perante as amigas, era como se já não pertencesse mais àquele mundo delas, como se ao ter Pedro sua vida mudou. Optou por esquecer aquilo e em poucos minutos já estacionava o carro na garagem. Notou que Victor ainda não tinha chegado, logo colocou o filho no berço e foi para o quarto. Já estava terminando de colocar creme em seu corpo quando ele entrou. Mesmo trajando uma camisa preta simples, um jeans surrado e de boné, Victor permanecia sexy, lhe permitindo imaginar uma noite relaxante com muito sexo. Ele sorriu e o mundo parou de existir para ela.

_Fazendo esse sorriso bobo e olhando para meu corpo devo presumir de que está pensando em sexo.
_Mas eu não estou pensando nisso - levantou-se e estava saindo do closet quando ele segurou seu braço para que parasse e o encarasse.
_Pode mentir para si mesma, mas não consegue para mim. - aproximou os lábios no ouvido dela e sussurrou - me espera na cama, também quero o mesmo que você.

E como se nada tivesse acontecido Victor foi em direção à sua gaveta de cueca e ficou escolhendo alguma. Em seguida foi para o banheiro. Aquele jato de água quente o fazia relaxar, mas ao mesmo tempo lhe dava mais vivo, com vontade e ansiedade ao saber que aquela madrugada seria ótima, iriam voltar no tempo de quando viam a claridade da aurora se formar enquanto se amavam e passavam horas conversando. Ele entrou cantarolando no quarto trajando apenas a cueca que havia escolhido quando sentiu vontade de chorar. Priscila já estava deitada, porém, dormindo.


_Hei, acorda - puxou a coberta e acariciou aquela tez delicada do rosto.

Priscila resmungou algo e virou-se lhe dando as costas. Ele olhou para o teto pedindo paciência. Mais uma vez a acariciou e dessa vez fez efeito, ela abriu os olhos e sorriu.

_Será que minha senhora poderia ficar acordada ou vai continuar se comportando como uma idosa?
_Vai se ferrar! - riram juntos - Não é você que tem uma jornada dupla de trabalho e ainda tem que ser mãe.
_Tudo bem - desceu a mão para a barriga dela e repousou ali, acarinhando a esposa de forma tranquila. - Me conta como foi lá na reunião do clube da Luluzinha


Priscila lembrou-se do clima que ficou, mas para lhe contar o que sentiu teria que remeter ao assunto do passado, assunto esse que seu marido estava envolvido

_Foi tranquilo. Ou melhor, mais ou menos. Pedrinho foi a atração das meninas.
_Esse é o meu garoto - olhou para o teto sorrindo.
_E e lá no ensaio, como foi?
_Leo como sempre, queria mudar o arranjo de uma música. Com isso, levamos mais tempo reclamando com ele do que ensaiando.
_Acho que vocês não precisam, são ótimos e vão arrasar amanhã. - Ela olhou para o corpo do marido, logo se aproximando e beijando a bochecha dele - Que tal aproveitarmos enquanto Pedrinho não acorda?
_E o que você acha que estou tentando fazer desde que cheguei do banho?


Sem delongas, a mão que repousava inocente no ventre de Priscila desceu, constatando que ela estava sem calcinha. Victor lançou um sorriso ousado e cheio de malícias. Gostava assim, de se amarem com a luz do abajur ligada. Encostou o rosto no pescoço dela e cada vez que investia com os dedos na intimidade da esposa, fazia o mesmo com a língua sentindo o gosto delicioso da pele dela. Priscila não estava deixando barato, sabia que naquela noite precisavam se amar de forma rápida, pois logo o filho iria acordar. Tateou até a mão achar a cueca do marido e adentrar, sentindo o membro rígido já pronto para tudo. Ambos estavam quase delirando e chegando ao ápice quando ele tomou iniciativa, baixou a peça íntima que cobria seu membro, e naquela posição que estavam - deitados de lado, um de frente para o outro - segurou uma das pernas de Priscila que o envolvesse no quadril, facilitando assim a penetração

_Você me deixa louca - ela sussurrou com os lábios próximos aos dele.
_Isso é só o começo…


Os planos da noite que ele tinha em mente iam totalmente ao contrário do que Priscila sabia que não daria tempo. Naquela posição e com as respirações ofegantes sentiu prazer, em poucos minutos ele havia atingido o ápice, porém, ela não. Sendo assim, Victor buscou com os dedos a intimidade dela e enquanto buscava lhe atiçar, sussurrava palavras ousadas no ouvido, o orgasmo dela veio violento e gostoso, mas nem tiveram tempo de conversar.

_Espera, Victor. - ela se afastou um pouco dele.
_Está recusando meus carinhos?
_Não. Acho que você não ouviu - olhou para a babá eletrônica


Pedro já choramingava, fazendo ela se levantar e ir até onde o filho estava. Victor foi atrás, levando o pequeno para o quarto do casal. Ambos estavam completamente cansados, mas para o filho a noite era uma criança.

_Amanhã vai trabalhar com a equipe? - Victor puxou algum assunto para não dormir.
_Não. Tati já escolheu quem vai trabalhar. Como ela sabia que eu iria sendo convidada me livrou.
_Bom saber - pegou um boneco e ficou brincando com o filho - Quero amanhã você na primeira fila.
_E você acha que a fã aqui estaria onde?


Priscila lançou um sorriso e logo o beijou rapidamente. Os dois estavam cansados, mas pelo filho fizeram aquela madrugada se tornar divertida.

***

Como já era de se esperar, tanto Priscila quanto Victor estavam parecendo um zumbi ao chegarem naquele evento. Posaram para as fotos, sorriram para alguns convidados, conversaram rapidamente com alguns fãs presente ali. Em seguida, ela foi para a mesa da família e amigos que estavam ali, sentou-se próxima de Maya e Renata

_E o Henrique? - Perguntou para a amiga.
_Chegou hoje, no final da tarde.
_Então teremos uma dose dupla de músicas boas?
_Sim - Renata bebericou seu drinque - Eles já haviam combinado qual música tocariam hoje.
_O evento está lindo - Priscila puxou assunto após alguns segundos as três em silêncio.
_É, a Tatianna caprichou na decoração, né? - Maya também olhou para a estrutura do evento.


O assunto continuou na mesa, Paula chegou para completar e a noite passou rápida. O mestre de cerimônia fez a abertura, nesse curto espaço de tempo houveram alguns sorteios, a noite estava animada. Ao ver os sobrinhos correndo animados Priscila se questionou o dia em que Victor também deixaria Pedro circular por todos de forma livre, sem restrição alguma. Foi acordada do pensamento quando anunciaram a entrada da dupla, eles iriam abrir o evento daquela noite. Não poupou sua câmera do celular e foi logo para frente do palco para gravar vídeos, tirar fotos, fazendo assim Victor dançar, lançar olhares ousados. Como sentia falta daquele mundo, dos shows, de cantar alto enquanto gravava.

Durante o show Leo convidou a dupla Henrique e Juliano para cantar, olhou para Renata e estranhou. A amiga sequer saiu da cadeira, observava o show longe, cantarolando a música, mas sem muita emoção. O que estava acontecendo com suas amigas? Era somente isso o que pensava enquanto voltava à mesa e sentava próximo à amiga.

_Não quer paparicar o maridão? - Perguntou para descontrair o clima.
_Estou paparicando, mas no meu canto. O Henrique sabe o quanto sou discreta.


Aquela resposta não a convenceu. Escolheu não tocar no assunto, mas podia sentir Renata cada vez mais distante, já no final da música ficou conversando com Marisa e Paula. Aproveitou que Victor e Leo passavam o palco para a dupla e foi para o camarim para ver o marido. Victor ainda estava parado próximo ao palco conversando com Bruno e alguns amigos ali. Ao vê-la, abriu um sorriso largo e foi ao seu encontro, abraçando forte e buscando os lábios para beijar.

_Depois quero ver se algum vídeo fiquei bom.
_Eu espero que dê uma recompensa a essa fã boba que te filmou.
_Olha, minha esposa é ciumenta, mas se ela liberar eu te levo para ter a melhor noite da sua vida…


Se beijaram arrancando assobios das pessoas próximas ali, mas não se aprofundaram no beijo por que ouviram gritos e objetos de vidros caindo no chão do camarim. Abriram a porta e viram Tatianna e Leo em uma discussão feia:

_ME FALA O NOME DELA. QUEM É ESSA VAGABUNDA?
_Tati, para com isso! - Leo tentava amenizar no tom de voz para que ninguém chegasse e presenciasse aquela cena.
_NÃO ME TRATA COMO LOUCA, LEONARDO. EU VI, OUVI VOCÊS CONVERSANDO. ENTÃO VOCÊ VAI SE ENCONTRAR COM ELA ASSIM QUE SAIR DAQUI? ÓTIMO! VAI DE UMA VEZ ENTÃO.
_Eu nem sei do que você está falando.
_VOCÊ SABE SIM! - Tatianna estava tão próxima dele que se quisesse lhe daria um tapa - EU OUVI ELA TE DANDO OS PARABÉNS E DIZENDO QUE QUERIA TE VER. VOCÊ ACHA ISSO CERTO? ME DÁ SEU TELEFONE - Tentava pegar o celular das mãos do marido, mas ele se esquivava - EU QUERO VER AGORA O NOME DESSA DESGRAÇADA!


Priscila não pensou duas vezes e entrou de vez no camarim, Victor também e logo trancou a porta para que ninguém presenciasse aquilo

_Tatianna, para! - Leo tentava não deixar com que a esposa tivesse acesso ao seu celular.
_ME DÁ SEU CELULAR!
_Eu não vou fazer isso.
_SE NÃO FOR POR BEM VAI SER POR MAL…


De repente, Tatianna começou a bater no marido, lhe aplicando tapas e sendo controlada por ele.

_JÁ CHEGA, TATIANNA! PARA COM ISSO.

A esposa caiu em si, afastou-se dele já deixando as lágrimas molharem seu rosto. Priscila se aproximou segurando no braço dela com carinho, mas para ela aquela discussão não havia acabado.

_Se você não destravar a tela do celular agora considere acabado nosso casamento.
_E o que você vai ganhar com isso? Eu não vou fazer o que você quer.
_Já que está tão certo o que custa me mostrar com quem estava conversando?
_Eu não vou te mostrar nada.
_Foi exatamente isso o que pensei. - uma revolta subiu seu corpo, deu dois passos para perto dele e colocou o dedo indicador no rosto do marido - JÁ QUE NÃO VAI ME MOSTRAR APROVEITA E VAI MORAR COM ESSA VAGABUNDA. LÁ EM CASA VOCÊ NÃO FICA MAIS.


Ali era o momento de Victor tirar o irmão de perto da cunhada, ele sabia que Priscila iria acalmar os ânimos ali.

_Vem Leo - segurou no braço do irmão, logo o tirando de lá

Tatianna entrou em desespero. Chorou copiosamente, urrava de dor, a dor de descobrir uma traição. Priscila não sabia o que fazer, já esteve naquela situação e foi bem pior, pois o pivô na época foram as duas amigas em quem confiava cegamente. Pegou um copo com água e ofereceu para aquela mulher que chorava desesperadamente.

_Calma Tati, isso vai passar - passou a mão nas costas acarinhando.
_Eu não sou louca… Eu vi, ouvi a voz dela e quando dei por mim ouvi os dois combinando de se encontrarem assim que o evento terminasse. Que ódio! - pegou o copo que estava nas mãos e jogou na parede.


Priscila se assustou, mas seguiu firme ali. Sabia que Tatianna só precisava desabafar. Mal sabia ela que aquela mulher estava decidida a não voltar mais para o salão onde o evento estava acontecendo.

_Aqui não fico mais. Quero ver agora ele se virar sem mim.
_Calma Tati. Tenta se recompor. Eu chamo o maquiador e logo você volta bela pro salão como se nada tivesse acontecido.
_Não, Pri. Eu vou embora - levantou-se.
_Eu não vou te deixar ir sozinha.


Enquanto saíam do evento pelas portas dos fundos, Priscila mandava uma mensagem para Victor lhe informando que estava com Tatianna. Durante o trajeto conversou, contou sobre das vezes em que fora pega numa traição e depois Victor lhe pedia perdão, logo tudo estava bem e iria acontecer o mesmo.

_Eu não sei, Priscila - Já estavam na casa de Tatianna e a ela já havia tomado banho, tirado a maquiagem. Sentou-se na cama - Dói muito você pegar uma pessoa, que dizia te amar, na mentira - Continuou chorando.
_Eu acredito que vocês irão conversar e fazerem as pazes. Leo com certeza é diferente do Victor, já vai entrar por essa porta te pedindo perdão.
_Mas será que vou aceitar?
_Olhando para você eu sinto que sim. Você o ama e quem ama perdoa. Está com ele nessa luta da vida por anos


Segurou na mão mais próxima de Tatianna e apertou. Chegou anos depois naquela família, mas sua vida de fã lhe ofertou saber sobre a vida de cada um ali. Por isso sabia que aquela mulher na sua frente já havia enfrentado muita situação para ficar ao lado de Leo. Ouviram passos no corredor, logo Leo e Victor tomaram o campo de visão. Priscila olhou para o esposo, não estava com uma cara muito boa.

_Vamos pra casa?
_Mas… - lançou um olhar para que o marido entendesse que ambos precisavam ficar ali para ajudar aquele casal.
_Vamos para casa - dessa vez ele afirmou.


Tatianna olhou com raiva para Leo. Iriam iniciar outra discussão:

_O que veio fazer aqui? Veio me dizer quem é a safada que você está saindo?
_Eu não sei do que está falando.
_VOCÊ CONSEGUE SER CÍNICO, LEONARDO? ME CONTA SOBRE ESSA VAGABUNDA QUE VOCÊ ESTÁ TRANSANDO OU VOU ESFREGAR O QUE SEI NA SUA CARA.
_Para de gritar. Não sei do que está falando.
_É? E SOBRE A FATURA DO CARTÃO DO DIA QUE VOCÊ ESTAVA NO MOTEL E NÃO ERA COMIGO?


Priscila queria ajudar aquele casal a se entender, mas Victor segurou de leve seu braço e puxou-a para fora daquela casa. Para ela foi injusta a forma como seu marido deixou aquele casal ali discutindo. Havia perdido a festa, mas por qualquer outra mulher numa situação dessa iria fazer. Foram em silêncio o caminho inteiro até a casa. Ela estranhou quando guardaram o carro na garagem e as luzes estavam acesas.

_Tive que trazer os meninos para cá. Paula deve estar os entretendo.

E não era somente eles que estavam acordados ali, Geane também estava e tentando fazer os filhos de Leo esquecerem um pouco do que os pais estavam fazendo em casa. Marisa estava com Pedro nos braços e lançou um sorriso terno para eles. Victor aproveitou que a mãe estava afastada dos sobrinhos e na entrada da casa puxou assunto:

_Deixei ele lá.
_Meu Deus, eu nunca imaginei que eles brigariam tão feio assim em um evento. Não havia necessidade da Tatianna dar aquele chilique todo.
_Mas o Leo também não é nenhum santo, mãe. Qual a necessidade de ligar para a amante durante a festa?


Ali era um julgamento que Priscila sentiu que não se encaixava sua presença, aquilo não lhe pertencia. Seguiu para a sala e chamou Geane a parte.

_Eu queria te agradecer por essa noite ter tomado conta do Pedrinho e agora deles - olhou para a sala, Paula iniciava uma partida de videogame com Matheus.
_Imagina, Priscila. Faço isso com prazer.
_Ainda acho que devia ter trazido seus filhos.
_Não, meu marido tem que ficar tomando conta às vezes. Vida de homem é muito fácil perante nós mulheres. - Ambas riram com vontade - Agora vai descansar. A festa deve ter te deixado exausta.
_Obrigada, mas vou só me banhar e daqui a pouco estou por aqui. Caso dona Marisa e a Paula queiram um dos quartos você acomoda elas para mim?
_Pode deixar.
_Já volto.


Enquanto Priscila tomava um banho deixava os pensamentos fluírem. Sentia pena de Tatianna e do casamento ter tomado outro rumo, sempre admirou aquele casal, eram exemplo para quem estivesse por perto. Já estava colocando um pijama confortável quando Victor entrou no quarto ainda com a expressão séria no rosto.

_Priscila, eu espero que na próxima vez você não se meta na confusão de Tatianna e do Leo.

Priscila achou ser o cúmulo aquele pedido. Em passos lentos se aproximou do marido que estava no closet escolhendo o que vestir após o banho. Não iria ficar calada:

_O que eu presenciei ali fiz e faria por qualquer mulher. Eu senti na pele tudo o que ela passou e sei o quanto dói. E quantas vezes precisar irei fazer por ela e tantas outras que surgirem no meu caminho.

Victor virou-se e encarou-a com uma sobrancelha arqueada. A confusão iria começar ali.

_Agora vai passar na cara e lembrar de algo que ocorreu anos atrás?
_Mais precisamente um ano e alguns meses. E isso ainda me dói.
_Então o perdão que te pedi não foi aceito?
_De todos os envolvidos o seu foi o que mais aceitei, mas perdoar é diferente de esquecer. - Deu as costas e saiu do quarto falando - Termina seu banho para ficar com o Pedrinho, mais tarde tenho que acordar cedo pra trabalhar.


***

Aquela manhã nem a maquiagem pesada conseguia disfarçar as olheiras de Priscila quando chegou no estúdio de fotografia. Depois da conversa da madrugada, Victor lhe ignorou e ela não estava com saco para ficar correndo atrás. Chegou no local e logo buscou a sala da amiga para contar sobre o babado daquela noite.

_Isso foi sério? - Tatiane perguntou quando a amiga terminou de narrar tudo.
_Sim. Eu senti muito a tristeza da Tatianna. Seja lá quem ajudou o Leo a traí-la foi muito vagabunda.
_Mas será que Leo estava mesmo conversando com alguma mulher? Sei lá, às vezes no auge da festa, muito barulho, ela entendeu errado.
_Não. Ela foi muito certa em dizer viu a foto da mulher no perfil do Whatsapp. E o Leo não quis desbloquear a tela do celular, tenho certeza que se ele fizesse isso iria ser pior a discussão.
_Uma pena isso terminar assim - bebericou o café.
_Mas acho que essa discussão não dá em nada. Logo voltam.


Priscila não notou, mas Tatiane fez uma expressão estranha no rosto. Mudou para um sorriso quando uma mulher alta, magra entrou na sala com um papel em mãos.

_Bom dia. Tati, está aqui o telefone do cliente para o almoço de hoje.
_Obrigada.


A moça saiu e Priscila ficou perdida.

_Não sabia que modelos tem acesso a essa sala.
_Ela não é modelo, ou melhor, já foi modelo. Hoje trabalha como fotógrafa e Cadu colocou-a aqui na equipe para ajudar. Ela já trabalhou em várias agências de modelo.
_Se for para somar que seja bem-vinda.


Priscila sentiu que algo naquela mulher não estava bem. Já podia prever o inferno que iria passar a partir daquele dia.




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