Capítulo 03


Novembro

E foi exatamente o que Priscila previa o que iria acontecer naqueles próximos meses. Ivy, nova funcionária do estúdio de fotografia, mal havia chegado e já queria se sentir superior a tudo e a todos. Foi em uma manhã que teve sua primeira provação de todas as paciências. Estava terminando de enviar um orçamento para um casal que gostariam de fazer uma sessão de fotos, saiu da sua sala apenas para pegar uma xícara de café na copa e foi abordada por uma das recepcionistas:

_Priscila, o casal que vocês foram contratados para registrar o casamento deles estão aí. Disseram que vieram buscar o álbum e as mídias com todo o pacote.
_Mas o que eles estão fazendo aqui? A Tati disse que iríamos hoje à tarde levar tudo na casa deles. 
_Eu não sei, mas disseram que alguém daqui havia ligado.
_Quem foi? você sabe dizer?
_Não.

A voz da nova funcionária se fez presente:

_Fui eu.
_A Tati te pediu para ligar? Estranho, nós não fazemos isso.
_Ela não falou nada – a bela moça se aproximou das duas mulheres carregando em seus braços o álbum de fotografia e um DVD – Eu fiz porque achei ser necessário. Com licença.

Priscila ficou observando a bela moça sumir do seu campo de visão. Algo estava estranho e ela decidiu que quando Tatiane chegasse iria ter uma conversa. Ao voltar para sala ainda ficou observando seus porta-retratos, sentiu uma saudade absurda de Victor e Pedro. Ficou alguns minutos conversando com Geane até se acalmar e ver que tudo estava bem na sua casa. Naquele dia Victor iria chegar de viagem à tarde, ficou tranquila.

Sua relação com seu marido estava entre altos e baixos, mas a chama do amor não deixava pensar em nada de ruim. O amava e isso era fundamental para ser feliz. Seu telefone tocou e avisaram que Tatiane já estava em sua sala. No caminho, achou Ivy conversando com as demais funcionárias na recepção e como amiga de Tatiane e funcionária antiga, Priscila se sentiu no poder de chamar atenção da moça.

_Ivy, depois podemos conversar?
_Pode ser agora – se afastou da recepção e foram para o corredor. – Pode falar.
_O que fez hoje, acho que em menos de um mês você já percebeu que não é assim que fazemos. Dentre todos os estúdios de fotografia da cidade, nós fazemos a diferença de levar para casa todo o arsenal que o cliente encomendou, o que o deixa satisfeito sem precisar vir aqui.

A bela moça ficou fitando Priscila por alguns segundos enquanto demonstrava tranquilidade através do sorriso.

_Eu sempre aderi a essa ideia de que os clientes merecem conhecer nosso ambiente.
_Mas a ideia daqui é fazermos diferente. Eles vêm antes de fechar o contrato, nós apresentamos nossa empresa. Logo, na hora da entrega do material eles não precisam vir aqui. 

O sorriso de Ivy se desfez, mas o olhar desafiador através dos orbes verdes permaneceu quando voltou a falar:

_Priscila, o que você faz aqui nesse estúdio?
_Não entendi.
_Estou perguntando qual sua função aqui?
_Eu sou fotógrafa para trabalhos externos e faço orçamentos para entregar aos clientes.
_Então quando e onde você achou que poderia vir ditar ordens para mim?
_Eu sou amiga da Tatian... – sua fala foi cortada com a voz levemente alterada da mulher à sua frente
_Lá fora! Aqui você é tão funcionária quanto eu. Então saia do meu caminho e me deixe trabalhar – passou por Priscila esbarrando em seu ombro.

Priscila ficou indignada com a postura de Ivy. Aquela mulher tinha muita convicção de que jamais alguém poderia lhe chamar atenção, era prepotente, usava e abusava da sua beleza para conquistar todos ali, mas Priscila conhecia bem aquele tipo de mulher. Decidiu que iria fazer o certo, foi até a sala de Tatiane para alertá-la.

_Tati, tá muito ocupada?
_Não – Tatiane parou de digitar algo em seu notebook e ficou aguardando a amiga sentar e conversar.
_Eu queria falar sobre a Ivy.
_Sobre o que ela fez hoje pela manhã?
_Exatamente! Não sei se soube, mas...
_Ah, ela me contou – Tatiane foi logo cortando a conversa da amiga com um sorriso sereno – E ela me contou que você poderia vir me pedir para chamar a atenção dela.
_Que bom que ela é esperta e não tomou meu tempo – Priscila ironizou. – Mas e aí, você falou com ela que isso era errado?
_Não. Na verdade não tem nada de errado, amiga. A Ivy me explicou que quando trabalhava na agência fazia isso sempre e que tinham bons resultados.

O clima começava a ficar estranho para Priscila. De repente, se sentiu uma intrusa ali, talvez uma fofoqueira.

_Então vocês vão aderir a isso só porque a Ivy pediu?
_Não é assim, amiga. Olha o ciúme – deu uma risada gostosa – Eu sei que você não a suporta, então nada do que ela faça de bom será legal pra você.
_Já entendi – levantou-se para encerrar o assunto – Então devo seguir ao que Ivy ordena?
_Esse sarcasmo até me lembra uma pessoinha que conhecemos – a risada entre as duas foi inevitável – Faça como quiser quanto a isso. Não precisa seguir ordens.
_Tá. Vou pra minha sala. Qualquer coisa bate na porta.

E assim Priscila ficou o resto do dia. A verdade era que estava muito chateada com a forma como Tatiane conduziu aquela história, pior ainda para uma funcionária nova que sequer queria seguir as regras do local de trabalho. Tudo o que ela precisava era de uma boa conversa com o marido e relaxar ao lado do filho.

Na volta para casa Priscila ficou pensando se precisava estar ali trabalhando e levando tanto desaforo na cara. O dinheiro não era problema, Victor cansou de lhe falar que dentro de casa ela não colocaria um real do seu bolso, às vezes era preciso brigar com o marido para que ele entendesse que ela também podia ajudar financeiramente mesmo que fossem nas coisas pequenas daquela casa. Sorriu ao lembrar-se das pequenas discussões e também de quando faziam as pazes. Nesse clima entrou na casa e logo avistou mais de um carro e não era do seu esposo. Justamente que naquele dia ela só queria um banho quente e carinhos do marido, tinham visitas.

Os gritos finos de Pedro se faziam presentes nos cômodos da casa e isso reativou a felicidade dentro de Priscila. Chegou à sala e viu o filho engatinhando empolgado para pegar um brinquedo e Geane observando tudo.

_Pensei que Victor tinha te liberado, Geane.
_Oi Pri. Não, ele chegou com o Leo e estão na sala dele.

A sala da qual a babá se referia era ao seu pequeno estúdio que ficava na área externa da casa. Era ali que Victor ficava quando queria compor algo, gravar alguma música ou simplesmente tocar acompanhado dos amigos e do irmão. Lembrou-se do cunhado e logo sorriu. Depois iria falar com eles porque naquela hora tudo o que ela queria era aproveitar ao máximo seu filho.

*

Os gritos de Pedro se faziam presentes, mas daquela vez eram as cócegas que Priscila fazia no filho e ele se empolgava em seus braços. Optou por liberar Geane, ofereceu para lhe levar, mas recebeu uma recusa. Não existia terapia melhor do que estar ali, jogada no tapete e com o filho nos braços. Perdeu a noção da hora e só lembrou que Victor estava em casa quando ouviu barulhos na cozinha. Sabia que as demais funcionárias da casa já não estavam, pois tinha liberado, então o mais óbvio era o marido estar ali. Colocou o filho nos braços e foi até o local, Victor já pegava uma garrafa de uísque, Leo os copos, dois rapazes que tocavam com a dupla preparavam alguns petiscos.

_Boa noite – falou após alguns segundos observando a bagunça.
_Oi! – Victor foi até a esposa e lhe deu um beijo rápido.
_Vejo que a farra está ótima.
_E aí, cunhadinha – Leo era o mais empolgado – Desculpa estar bagunçando sua cozinha. Nós já vamos embora.
_Imagina, Leo. Fiquem à vontade – olhou para o marido – Vou subir tá?
_Qualquer coisa me chama.

Priscila estava tão impaciente que até as gargalhadas alheias lhe davam mau humor. Subiu com o filho, cuidou dele para dormir e o levou para sua cama. Só ali notou que nem banho havia tomado, estava com a roupa que ficou o dia todo. Nessas horas precisava de Victor ali, lhe dando suporte. Respirou profundamente e ficou observando o filho que estava quase dormindo. Agradeceu aos céus quando Pedrinho estava em um sono profundo, o levou para o quarto e desceu para recolher e arrumar a bagunça que ele havia causado durante o dia. Fez um tour pela casa, nada estava fora do lugar e enfim poderia ter seu descanso. Já estava saindo do banheiro e indo direto ao closet quando viu Victor colocando algumas peças de roupa na sua pequena mala de mão.

_Vai viajar de novo?
_Oi? – Ele já estava levemente alterado por conta do álcool e deu um sorriso bobo – Não. Vou pra fazenda com o Leo.
_Isso é sério? – cruzou os braços com uma linguagem corporal de que não estava gostando da ideia.
_Qual o problema?
_Todos! Victor, eu cheguei cansada, com saudade porque faz dias que não te vejo, e você vai à fazenda do seu irmão?
_Na volta eu te darei suporte – tentou beijá-la, porém ela virou o rosto.
_Eu preciso de você agora.
_Não, é sério que você vai começar uma discussão agora?
_Eu tenho todos os motivos para estar certa.
_Eu não sei por que de tanto chilique.

Victor foi andando até a porta do quarto, momento propício para Priscila lhe seguir.

_Chilique?
_É, isso mesmo!
_Eu chego cansada do trabalho e você vem me falar isso?
_Sim. Qual o problema de eu ir à fazenda com o Leo e resolver algumas coisas?
_TODOS! Porque ir à fazenda se vocês podem resolver algumas coisas aqui?
_Espera... não me diga que você está achando que... – instigou a esposa para completar sua linha de raciocínio.
_Eu não estou falando nem achando nada, você que está deixando claro o que nós dois estamos pensando.

Victor preferiu acabar com aquela discussão ou seria mais uma das que eles jogavam verdades na cara. Ignorou e saiu, mas no corredor foi parado porque a voz de Priscila continuava:

_Então é isso mesmo, Victor? Você vai?
_Eu faço o que bem entendo e sei da minha vida.
_Ótimo então. Mas depois não me venha pedindo desculpas – lhe deu as costas e fechou a porta com força para que fizesse um estrondo.

Aquilo foi uma discussão tão banal que se Victor estivesse com zero álcool em seu corpo voltaria ao quarto para saber o que estava acontecendo. Nos últimos meses Priscila se comportava como uma esposa insegura, procurando qualquer motivo para jogar na cara dele sua crise de ciúme. Naquele dia estava pior, e como ele a conhecia bem sabia que não se tratava de assunto bobo como o qual estavam discutindo. Ele falou para si mesmo de que no dia seguinte quando chegasse a procuraria para conversar. Quando desceu e foi até a garagem Leo já o aguardava.

_Demorou
_Eu estava pegando minhas coisas. Vamos?

Seguiram rumo à fazenda de Leo. Victor só havia aceitado abdicar do seu momento família por naquela tarde, após chegarem de viagem, ele perceber que o irmão estava muito abalado, triste. Após a separação, Leo estava ciente de fizera uma escolha, mas não imaginava quão doloroso seriam as semanas seguintes. Victor já havia passado por essa situação, então achou justo fazer o mesmo que o irmão fez.

*

Priscila deixou que as lágrimas caíssem enquanto buscava uma roupa confortável para vestir e dormir. Tentar dormir, pois ficou por algumas horas rolando na cama. Não entendia aquela atitude de Victor, precisava dele ali, lhe aconselhando, conversando, oferecendo ombro amigo. Sabia que aquela discussão estava sendo boba, infantil, mas uma coisa ela tinha certeza: iria conversar com o marido quando tivesse oportunidade.

Já estava entrando em um sono leve quando ouviu Pedro choramingar, ela sabia que aquele tipo de choro era que algo em seu filho não estava indo bem. Levantou-se e foi até o quarto, checando e descobrindo que o corpo do pequeno estava febril. Analisou-o rapidamente e levou para sua cama. Aquela madrugada foi tensa, Pedrinho já tinha aumentado o volume do choro e antes que o sol nascesse ela estava parecendo um zumbi na sala, balançando de leve enquanto olhava para o jardim através da longa janela. Queria chorar, mas nem forças para isso tinha. A febre do filho não diminuía e no seu limite, pegou o celular, mandando mensagem para Victor, não obtendo respostas. Deixou uma mensagem de áudio:

_Victor, eu não sei onde está, mas preciso de você agora. O Pedrinho está com febre e eu preciso levá-lo à emergência. Liga pra mim assim que puder.

Colocou o celular no sofá e continuou acalmando o filho que chorava e logo parava. Por ser mãe de primeira viagem, Priscila não sabia o que fazer, todos os documentários, livros, revistas sobre o mundo materno, nada lhe serviu naquele momento. O sol estava timidamente entrando na área externa da casa quando ela viu Geane chegando. A babá assustou-se e foi até eles antes mesmo de guardar a bolsa.

_O que aconteceu?

Parecia que Priscila estava vendo um anjo na sua frente, achou em Geane seu porto seguro e começou a chorar descontroladamente. A mulher vendo o desespero daquela mãe segurou o pequeno e por ali já entendeu o que se passava. O menino queimava de febre.

_O que você tem meu pequeno?
_Desde ontem que essa febre dele não passa.
_Ah, mas isso é normal na idade dele. Isso deve ser o dentinho crescendo – sentou-se com o pequeno nos braços – Você ficou a madrugada toda acordada?
_Não tem nem como disfarçar né? – sua expressão no rosto era de cansada, as olheiras deixavam bem claro o que aconteceu naquela noite.
_Então vá descansar um pouco, ainda nem passou das sete da manhã.
_Você veio cedo, por quê? – Priscila falou após alguns segundos de silêncio.
_Eu não sei. Senti que você precisava de mim – sorriu.

Priscila seria eternamente grata por ter aquela mulher do seu lado nos momentos difíceis. Continuou sua admiração ao notar que ela não tocou no nome de Victor. Lembrou-se dele e uma raiva lhe consumiu por dentro. Tentou ligar mais uma vez para ele enquanto tentava dormir um pouco antes de ir para o trabalho. Sem êxito. O celular de Victor encontrava-se desligado e a última vez que ele havia usado o aplicativo de mensagens foi na noite anterior.


Depois de tentar tirar um cochilo e rolar na cama, Priscila olhou para o teto, ficou pensando em como aquilo estava sendo difícil. No fundo só queria um pouco de tempo livre para pensar em si, fazendo as contas percebeu que nunca mais tinha ido a um salão de beleza para dar um corte e pintar seu cabelo. Uma angústia possuiu seu corpo e chorou por alguns minutos. Sempre teve o sonho de ser mãe, mas não imaginava o quanto seria difícil. Olhou para o relógio próximo a cabeceira e decidiu ir até o quarto do filho. Entrou em passos pequenos quando viu o silêncio, mas logo foi tomado por Pedro choramingando.

_E a febre, não passou?
_Eu dei o medicamento. Agora é aguardar – Geane tentou lhe acalmar.
_Caso não resolva eu vou levá-lo ao hospital.
_Não acredito que precise disso, Pri. Logo ele fica bem, é só aguardarmos.

Priscila foi ao quarto para tomar um banho ao voltar para ver o filho ele já estava com o choro alterado. Sacou o celular e ligou para o estúdio enquanto seguia para seu closet. Suzane atendeu a ligação:

_Su, bom dia. Preciso que você passe um recado para a Tati... – sua fala foi interrompida por a da recepcionista.
_Pri, bom dia. Que bom que ligou para cá, já estava aflita. Tem um rapaz aqui falando que veio para fazer as fotos de uma campanha, mas até agora ninguém chegou.
_Que campanha? Eu não estou sabendo de nenhuma sessão de fotos externa.
_Mas é aqui mesmo, dentro do estúdio.
_E os fotógrafos que fazem essa função estão ocupados?
_Na verdade ninguém chegou. Liguei para Tati e o Cadu, mas eles estão com um cliente e vão demorar.
_Eu não posso fazer isso, Su. Já ia ligar para avisar que vou me ausentar hoje.
_Então eu o dispenso?

Naquele exato momento Geane entrou com o filho nos braços, Victor chegou em seguida. Pela amiga ela iria abdicar da sua vida e do seu filho, pois sabia que pegaria muito mal para os clientes saberem que a empresa havia dispensado o modelo por falta de profissionais.

_Não. Mas pede para ele aguardar, vou demorar um pouco.
_Tudo bem. Até daqui a pouco.

Agora o problema de Priscila era outro quando desligou o telefone. Sua raiva estava tão inflada que sentiu vontade de estapear o marido. Victor seguia sem entender nada.

_Onde estava que não atendeu minhas ligações? – cruzou os braços.
_Estava na fazenda. Lá não tem área – olhou para o celular quando tirou do bolso e percebeu que tinha mais de uma ligação da esposa.
_Não tem área? Conta outra Victor – deu as costas e foi procurar sua roupa para trabalhar.
_Então o que queria de tão importante?


Priscila virou-se e o encarou, ali já tinha perdido a noção da paciência e jogou tudo para o alto.

_Seu filho. Eu fiquei a madrugada toda acordada porque ele está febril e agora você vai levá-lo para emergência


Foi muita informação para Victor. Rapidamente ele olhou para o pequeno que estava nos braços de Geane, voltou a falar com Priscila:

_E porque você não pode ir com ele?
_Eu trabalho.
_Mas nem nesse momento você pode abdicar do seu trabalho, Priscila? – alterou a voz por também querer entrar na discussão.
_Quer saber? Você também precisa ter um pouco de responsabilidade. Acha que filho só é bom quando tá limpinho e bonito? – rebateu no mesmo tom.
_É? Então você esquece-se das vezes que eu fico com ele enquanto que a mãe dele vai para academia após o trabalho.
_Para de falar em terceira pessoa, Victor. Você sabe que isso me irrita.
_Irrita? E sabe o que me irrita? Quando você fala coisas absurdas como se eu não cuidasse do meu filho!

Geane sabia que ali a discussão iria piorar. Pedrinho já chorava com sono. Foi preciso interromper:

_Vocês dois parem! Não veem que o Pedrinho está chorando?

Foi a palavra mágica para o casal encerrar a discussão e ir até o filho. Momento propício para a babá os acalmar:

_Eu falei que era o dentinho, lembra? Verifiquei agora e a gengiva está inchada e avermelhada. A febre está passando.

Era tudo o que Priscila precisava ouvir. Respirou aliviada e voltou ao closet. Ouviu os passos de Victor e Geane sumirem e as vozes também. Aproveitou o momento para terminar de se arrumar para o trabalho. Em poucos minutos sentiu a presença do marido e foi o momento certo de pegar a bolsa para sair. Foi interrompida com a voz dele:

_Fique. Precisamos conversar.
_Não. Eu tenho que trabalhar, mas acho bom ficar em casa para mais tarde, sim, nós termos essa conversa – saiu sem olhar para trás.

***

Aquela maquiagem que Priscila havia feito foi forte, pesada para poder esconder as olheiras. Estava tão cansada que já cogitava após a tal sessão de fotos pedir dispensa para Tatiane. Puro engano, pois se lembrou de que naquela tarde teria que fazer uma tomada de fotos para uma turma de curso de enfermagem. Mais uma vez pediu forças aos céus. Entrou e achou Suzane e mais alguns funcionários.

_E aí, chegou algum fotógrafo para fazer o serviço?
_Ainda não.
_E quem teve essa brilhante ideia que não ligou nem escalou nenhum fotógrafo para fazer isso?
_Foi a Ivy. Ela conhece a dona dessa loja e só acharam esse horário disponível para o rapaz fazer as fotos.
_Só tem ele?
_Sim.
_Vou lá.

Priscila pegou a ficha, ficou analisando o que pediam para que fizessem e entrou no corredor lendo sem nem ver quem estava ali. Avistou um belo homem alto, porte físico másculo, olhos azuis perfeitos, assim como sua beleza. O rapaz era simpático e logo lançou um sorriso. Era desses que Priscila gostava de fazer o trabalho, sempre estavam de bom humor.

_Oi – lançou um sorriso mesmo estando cansada.
_Tudo bem?
_Tudo. Vamos entrar.

Ela entrou na sala e ligou as luzes, pediu que o rapaz ficasse à vontade enquanto terminava de ler o que pediam. As fotos eram todas de trajes de praia, logo ela entendeu que o belo rapaz iria ficar todo o tempo trajando sunga. Priscila indicou que ele podia se vestir dentro da outra sala que existia ali, enquanto isso tentou ligar para algum fotógrafo, sem êxito. Aproveitou que o rapaz se produzia naquela para ajustar a câmera, os demais equipamentos para que tudo saísse em boa qualidade. Estava concentrada no rebatedor quando o belo rapaz puxou assunto:

_Faz tempo que trabalha aqui?
_Sim – não olhou para o rapaz para não perder a concentração ao que fazia. Voltou para a câmera para ajustar. – Na verdade estou aqui desde quando Tatiane e Cadu abriram a empresa.
_Engraçado, nunca te vi por aqui.
_Eu fico na minha sala fazendo orçamentos e entro em contato com os clientes.
_E o que faz aqui? – lançou um riso fraco.

Naquele momento Priscila teve que olhar para ele e logo teve um pequeno susto. O rapaz era muito mais bonito com aquelas luzes todas da sala. Rebateu o riso e logo voltou à conversa e também ao que estava fazendo:

_Estou aqui porque nenhum dos outros fotógrafos pode estar. Na verdade... – ela voltou a olhar para ele – prefiro fazer trabalhos externos.
_Entendi.
_Bom, chega de conversa. Vamos às fotos?
_Já estou pronto...

O belo rapaz tirou o roupão que estava usando e deixou à mostra seu corpo perfeito e másculo. Priscila tragou a própria saliva, até havia se esquecido da madrugada inteira acordada. Lembrou-se que sequer sabia o nome dele:

_Como se chama?
_William
_Então, William, acredito que você já deve saber como são as fotos. Fica ali – apontou para o local – e o resto já sabe.

William já sabia bem e seguiu para o local. Priscila iniciou a sessão de fotos, o belo homem levava jeito para aquilo, pois seu olhar era chamativo, puro enigma. Aquilo a fez lembrar-se de Victor.

_Tenta fazer aquele olhar que fez anteriormente – Ela se aproximou com a câmera em mãos e mirando no rapaz.

William além de fazer o que ela havia pedido ainda lançou um sorriso ousado, fixando bem para a câmera. Priscila nunca participava desses ensaios, então não sabia se era normal aquelas caras e bocas que o rapaz fazia ali. Pediu uma pausa após alguns minutos o fotografando e conectou rapidamente a câmera ao notebook que ficava ali na sala.

_Posso ver como ficaram as fotos? – ele indagou antes de se aproximar.
_Claro. Vem.

O que Priscila não imaginava era que o belo rapaz ficaria tão próximo dela e para piorar mordia o próprio lábio inferior cada vez que ela mostrava como foi o resultado daquele trabalho. Já estava ficando incomodada com aquela proximidade.

_Agora você troca de sunga ou sei lá qual próximo traje de banho – riu para descontrair o ambiente, mas bastou se erguer na postura para perceber que estavam muito próximos.
_Sim, mas antes que alguém nos atrapalhe preciso te perguntar: é casada?

Aquela pergunta direta deixou-a totalmente desnorteada. Priscila achou que tinha ouvido demais, mas segundos depois percebeu que ele estava aguardando a resposta. Ergueu a mão esquerda, mostrando a aliança. Aquilo não intimidou William.

_Às vezes uma aliança não diz muito. Conheço casadas que amam adrenalina.
_Infelizmente, ou felizmente para mim, não preciso disso. Amo meu marido.
_Amar também não diz muito sobre um relacionamento.

Os olhares estavam presos, Priscila jurou sentir suas pernas tremerem de tão nervosa que estava. Justamente naquele dia houve aquela frase. Se existisse de fato uma tentação, para Priscila estava ali, ao vivo e em cores. Ouviram alguns burburinhos no corredor e deduziram ser alguém que iria entrar ali.

_Eu acho bom você ir se trocar.
_Eu vou, mas sinto que essa conexão entre nós não vai morrer aqui – e saiu para outra sala.

Priscila puxou uma cadeira que existia ali e sentou-se. Estava nervosa demais e precisava se acalmar. Abriram a porta e Cadu entrou acompanhado de um dos fotógrafos.

_Pri, muito obrigado por segurar as pontas. A Suzane me disse que veio para cá assim que soube.
_Imagina Cadu. Só fiz as primeiras fotos, o rapaz foi trocar de roupa e aí vocês acompanham daqui em diante?
_Pode ir na paz. Obrigado.

Ela saiu como um foguete e se trancou em sua sala, ficou ali o resto do dia.

***

Somente dentro do veículo e naquele trânsito caótico de início de noite foi que Priscila lembrou-se que precisava conversar com Victor, saber como o filho estava. Durante o dia pediu para Geane lhe informar caso Pedro permanecesse febril, a babá disse que estava tudo tranquilo e que Victor passou o dia inteiro lhe dando suporte. Priscila sabia que o marido só estava fazendo aquilo para agradar a esposa após ter passado a madrugada toda fora de casa. Lembrou-se da saída dele com o irmão e ficou incomodada. Agora Leo era o mais novo solteiro do pedaço e com certeza estaria aproveitando ao máximo, o problema estava em Victor do nada também querer ser companhia do irmão.

Remexeu-se inquieta enquanto aguardava aquele semáforo abrir. Priscila não queria pensar nada de errado, mas com um histórico imenso de traições que Victor havia feito já sentia medo de alguma garota surgir e mostrar que todo aquele amor que o marido sentia por ela se esvair. Estava insegura, isso não podia negar, o ciúme que sentia estava demasiado. Parou com os pensamentos quando entrou em casa e notou que o carro dele estava na garagem.

_Que bom que alguém entendeu que precisamos ter uma conversa.

Priscila entrou e não achou Geane circulando por ali. Antes de ir embora a empregada informou que Victor havia liberado e estava no quarto. Momento bom em uma boa oportunidade para Priscila subir e conversar com ele, mas achou-o no quarto de Pedro admirando o pequeno que dormia tranquilamente. Ali não era o momento, assim ela pensou. Preferiu tomar um banho demorado e descer para comer uma fruta. Estava degustando uma maçã quando Victor desceu e achou-a ali. Já estava saindo da cozinha quando Priscila iniciou a conversa:

_Volte. Precisamos conversar

Victor estava calmo naquele momento, sabia que eles teriam uma conversa e havia se preparado para isso. Durante o dia refletiu sobre o estresse da esposa e decidiu que lhe daria ombro amigo, estava naquele dia em paz. Aproximou-se de Priscila e aguardou ela começar a conversa:

_O que fez durante a madrugada que não estava com o celular na mão?
_Eu já disse, estava fora de área.
_Victor... – foi interrompida com a voz dele.
_Eu não sei por que dessa implicância repentina com as minhas saídas com o Leo.
_Eu nem falei sobre isso – mais uma vez sua voz foi ofuscada por a do marido.
_Falou sim. Pensa que não percebo isso? Você nunca implicou e agora, do nada, fica fazendo cenas de ciúmes.
_Não é ciúmes!
_Então o que é?

Priscila foi pega de surpresa e se controlou, tentou disfarçar, buscou na mente algo para comprovar que não era ciúmes aquele chilique todo. No fim, decidiu entregar de vez o que pensava:

_Eu acho que agora que Leo está separado deve ter um monte de garotas indo para essas festinhas na madrugada lá na fazenda.
_E com isso você acha que eu posso estar te traindo? Pelo amor de Deus, Priscila...
_Victor, pra você é bem cômodo fazer isso. Nos últimos meses sequer conseguimos ter uma rotina como casal, o Pedrinho sempre está entre nós. Sabe quando eu usei aquelas lingeries?

Ele sentiu que ela estava aflita através do tom de voz.

_Nós dois sabemos bem que quando queremos não precisa nem de roupa – lançou um sorriso malicioso.
_Acontece que nem isso te faz querer ficar perto de mim – controlou-se para não chorar ali. Respirou fundo – Eu sei que sou chata e...

Não existiam mais palavras para o momento. Decidiu então agir. Foi em passos largos até ele, pegando-o de surpresa.

_Sabe o que me falta? Isso aqui...

Segurou o rosto com as duas mãos, ficando na ponta do pé e roubando um beijo intenso. Até Victor ficou assustado com a iniciativa da esposa, retribuiu alguns segundos depois com as mãos na cintura e sentindo a textura daquela camisola de ceda. Priscila desceu uma das mãos para a parte frontal da bermuda que ele usava, apertando de leve e o deixando excitado rapidamente. Ali era um caminho sem volta e Victor acordou para usar o prazer de ambos. Levou uma das mãos até a calcinha da esposa, jogando-a para um lado e sentindo ali o quanto úmida estava. Foi preciso gemer entre os lábios da esposa.

Nem Priscila acreditava que havia tomado inciativa e estavam ali, se acariciando, pausando o beijo para gemer alto. Rapidamente ela segurou o pulso dele.

_Aqui não. As meninas...
_Não. Liberei todo mundo

A voz dele rouca, baixa, deixou-a sem saber o que fazer, mas logo retomou ao que estava fazendo. Desceu a bermuda acompanhada com a cueca e ajoelhou-se diante dele, Victor teve que se apoiar na bancada de mármore para não cair quando sentiu as mãos delicadas de Priscila movendo sobre seu membro e com a língua tocar a ponta.

_Priscila... – foi o que conseguiu sussurrar.

Ela entendeu o recado e envolveu-o com a boca, fazendo sugadas vagarosamente, erguendo o rosto para fixar bem o olhar para ele. Victor já não estava aguentando aquela sensualidade toda, teria que ser algo rápido. Segurou-a incitando para levantar-se. Priscila não sabia onde tinha buscado tanto fogo mesmo após uma madrugada e um dia cansativo. Ela própria tirou a calcinha, deixando-a no chão, buscou os lábios dele para mais um beijo e nesse momento levantou uma perna, envolvendo o quadril dele, segurou o membro, levando-o a entrada da sua intimidade. Gemeram quando ele entrou dentro dela, que buscou a região do pescoço para deixar o rosto ali e respirando ofegante em cada movimento.

Victor já não aguentava mais estar deixando ela à frente da situação. Afastou-a para colocá-la apoiada as mãos no mármore e por trás penetrou-a devagar, fazendo-a rebolar com tesão. Priscila sentia o prazer lhe consumindo, invadindo com força. Victor levou uma mão para frente e lhe acariciou para estimulá-la, movimento certo para ela explodir em um prazer arrebatador e gemer alto, forte. Combustível certo para ele ir junto e acelerar os movimentos enquanto a mão livre apertava com força a cintura dela. Caíram no chão completamente extasiados e satisfeitos.

_O que foi isso? – Victor falou enquanto recuperava o fôlego e Priscila se aninhava em seus braços.
_Era disso o que eu estava precisando – sentiu o corpo ficar mole e com vontade de dormir.
_Nem pensa em dormir aqui – passou a mão no cabelo dela, puxando-o para ver o rosto de satisfação pós-orgasmo. – Sei que precisa conversar e não é sobre essa crise de ciúme.
_Esquece. Foram tantas coisas que ocorreram que acredito que não precisamos falar sobre isso.
_Trabalho?
_Também. Eu só preciso de você aqui, assim – ergueu o corpo para olhar profundamente para ele.
_Sabe que sempre estarei do seu lado.
_Sei sim – passou os braços no ombro dele – me leva pra dormir?

Victor riu com vontade e levantou-se primeiro para em seguida colocá-la nos braços e subirem. No corredor olharam para o quarto do filho, mas ele seguiu adiante e colocou-a na cama.

_Eu preciso ver o Pedrinho – falou sonolenta.
_Deixa que eu cuido disso. Ele passou o dia sem febre, acredito que agora vai dormir tranquilo. E caso acorde eu estarei aqui.
_Obrigada, marido lindo – foi apenas isso que conseguiu sussurrar antes de dormir.


Dezembro...


Priscila estava encantada com o presente que Pedro havia ganhado de Suzane. Parou o que estava fazendo no estúdio para paparicar aquele carrinho.

_Se quiser pode doar para alguém caso o Pedrinho não goste.
_E porque ele não iria gostar Su?
_Não é presente de rico, né?
_Para com isso, Su. Sabe que lá em casa não temos isso. Sei que ele vai amar. Vou mostrar hoje mesmo a ele. Obrigada – abraçou a colega de trabalho.
_Imagina. Me promete que um dia vai trazê-lo aqui.

Priscila sabia que seria uma missão difícil, mas não impossível. Em uma viagem a trabalho de Victor ela daria um jeito de levar o pequeno ali.

_Pode deixar. Bom, vou voltar pra minha sala que ainda preciso preparar algumas coisas para esse fim de semana que será corrido aqui.

Durante o trajeto Priscila se esbarrou com Ivy, a bela moça lhe mediu dos pés a cabeça, fez um sorriso cínico e seguiu. Desde que chegou naquele estúdio estava sempre fazendo tudo sem ordem de Tatiane e Cadu, aquilo incomodava muito Priscila, mas decidiu estender a bandeira da paz. Foi para sua sala e por ali ficou. Empolgou-se tanto no trabalho que só notou que passava das seis horas da noite quando olhou para o celular. Foi logo para a sala de Tatiane, mas a secretária informou que ela já tinha saído. Enquanto Priscila desligava o computador da sua sala ligou para a amiga:

_Oi Pri
_Achei que iria me esperar para irmos à academia.
_Ai miga, tem como adiar para amanhã? Estou com um compromisso hoje.
_Por mim, tudo bem. Estou saindo então. Beijos.

No fundo Priscila agradeceu que teria uma noite livre para se dedicar ao marido e ao filho. Após a conversa com Victor estavam mais próximos, conversavam mais, juntos decidiam o que fazer e quais os próximos passos a serem tomados na vida a dois. Sorriu enquanto seguia pelas ruas e seu carro deslizava indo direto para casa. Lembrou-se do presente que o filho havia ganhado, tinha esquecido no estúdio e como estava na metade do caminho optou por voltar. Enfrentou um trânsito enorme, pois tinha acontecido um acidente bem próximo, mas não desistiu. Ao chegar ao estúdio tudo estava tranquilo, as portas já estavam fechadas e o ambiente com pouca luz.

_Deve ser o Maurício trabalhando até tarde – sorriu para si mesma enquanto travava o carro.


Priscila decidiu que iria entrar bem rápido, pegaria o presente que Suzane havia dado e nem iria à sala do colega de trabalho para não tomar seu tempo. Maurício sempre gostou de ficar após o horário de expediente por ser mais calmo e tranquilo para ele fazer as edições das fotos. Ela já estava seguindo pelo corredor quando ouviu uma voz feminina e barulho de gemidos. Infelizmente para passar até sua sala teria que enfrentar aquele corredor, numa daquelas salas estava ocorrendo algo bem picante. Então decidiu que iria fazer barulho com os saltos para que quem estivesse fazendo algo, parar. Só não imaginou que ao virar o rosto e ver uma das salas abertas o casal ali era quem ela menos esperava. Cadu e Ivy já estavam sem fazer nada, porém, estavam muito próximos e olhando bem para ela que parou assustada com o que viu.



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