Capítulo 06

 Janeiro 

 

O carro foi perdendo velocidade e estacionando na garagem deu a sensação para Victor e Priscila que todos os problemas que haviam deixado de lado estariam ali. Ela olhou para Pedrinho que dormia tranquilamente em seus braços e subiu enquanto Victor e o motorista particular dele buscavam as malas e colocavam dentro de casa. Olharam para cada cômodo ali, na ausência deles decidiram dar as férias para toda a equipe de funcionários.

Priscila não perdeu tempo e aproveitou o sono profundo do filho para ir direto à cozinha e preparar algo para os dois. Victor tomou um banho para relaxar, mas dentro do banheiro sua mente já o alertava de que precisava resolver algo. Desceu calado deixando ainda aquela paz que sentiu naqueles dias, na casa da família da esposa, permanecer. Durou até chegar à cozinha, sentar-se à mesa e a esposa o acordar do transe:

_Já decidiu o que vai fazer?

Ele sabia ao que ela se referia, não era bobo. Apenas fez um gesto em negativa para a pergunta da esposa e terminou sua janta calado. Após ajudar Priscila com a louça foi até o estúdio que tinha no quintal. Estava analisando algumas de suas composições quando ela apareceu.

_Devia descansar, Victor.
_Mas isso é o meu descanso, Priscila.
_Pensei em assistirmos alguma série juntos, quem sabe algum documentário – ficou atrás dele massageando os ombros.
_Prefiro hoje ficar assim.
_Ok. Você venceu, mas precisamos retomar aquele assunto sério que paramos na hora do jantar.
_Priscila, não começa... – sua fala foi interrompida por a voz da esposa.
_Victor, adiar não vai adiantar. Sente, converse com o Leo, vejam se é isso o que querem... – também foi interrompida por a voz de Victor.
_Mas ISSO é o que EU quero, Priscila!

Priscila não conseguia entender que mudança repentina o marido teve em querer largar a vida profissional. Seria um processo longo para respeitar.

_Certo – se afastou dele – mas antes que chegue aos ouvidos da sua mãe de forma errada, melhor vocês falarem a ela.

E saiu sem nem querer ouvir o que Victor tinha a dizer. Priscila sabia que agora estava entendendo Marisa, afinal, era mãe. Então não queria imaginar a barra que ela iria passar quando os dois filhos falassem que estavam encerrando uma parceria de anos porque simplesmente um não estava suportando o outro. Pedrinho acordou e isso tomou o resto da sua noite. Aproveitou para ligar para as funcionárias, saber se Geane poderia voltar mais cedo para o trabalho. Acabou a noite dormindo com o filho na sua cama e não viu quando Victor os acompanhou.

*

Pela manhã Priscila deixou o filho empolgado assistindo desenho e fez uma faxina na casa. Era imensa, mas aos poucos iria se colocando tudo em seu lugar. Não gostava de ficar ali sem fazer nada. No final da tarde estava com o filho nos braços próximos ao jardim quando Victor apareceu arrumado.

_Eu vou lá.
_Certo. Boa sorte – o beijou rapidamente. – Pensa bem se é isso o que quer.
_Já estou decidido, Priscila. Não quer ir comigo?
_A Tati chega daqui a pouco.

Mais uma confusão eles teriam pela frente. Victor já imaginava que a presença da amiga da esposa ali era para pedir a volta dela no trabalho. Respirou profundamente e entrou no carro.

Durante o trajeto Victor estava indignado. Se ele estava abdicando da sua vida de artista para ter mais tempo com sua família, porque Priscila não poderia fazer o mesmo? Sabia que ela estava iniciando a vida profissional, mas naquele momento era injusto. Ela tinha todo o suporte financeiro do marido caso quisesse abrir o próprio estúdio de fotografia, mas insistia no erro de conciliar trabalho com amizade.

Em meio a esses pensamentos chegou na fazenda de Leo. O irmão estava brincando com os filhos, era lindo de se ver. Este, ao vê-lo, abriu um sorriso bom. Como sempre em toda briga daqueles irmãos, tudo terminava em nada. Ledo engano. Leo aproximou-se do irmão mais velho e o abraçou.

_Feliz ano novo, Nego Véio.
_Feliz ano novo.

Victor falou rapidamente com os sobrinhos e pediu para que Leo o levasse para perto da piscina. Ali daria para conversarem sem ser interrompidos.

_Que milagre foi esse de vir aqui? – olhou ao redor – Onde está Pri e Pedrinho.
_Ela tinha uma reunião com Tatiane. Mas te mandou um abraço.
_Mas se bem sei e te conheço, você não veio para trazer esse abraço.

Victor respirou fundo. Não era de meias palavras ou texto para explicar o que podia ser simples. O que ele precisava era medir as palavras e falar sem machucar o irmão:

_Eu precisava pedir desculpa por toda aquela confusão lá em Londres.
_Você sabe que não precisa pedir desculpas, Victor.
_Claro que preciso. Eu preciso começar a entender as pessoas. E com você não será diferente.
_Nós nunca precisamos dessas formalidades, Nego Véio. Sempre discutimos e tudo sempre fica bem.
_Mas sabe o que me incomodou mais quando cheguei em casa, Leo? Foi saber que em algumas partes eu estava sendo sincero. Eu sinceramente estou farto de algumas coisas e hoje sei que isso desgastou muito nossa relação como irmãos.
_Fale por você, eu nunca pensei assim – Leo já sentia que algo de ruim viria.
_Leo, vamos ser sinceros com nós mesmo, eu não quero mais isso. Não quero mais essa vida, não quero me arriscar. Essa viagem foi de longe a pior de todas que tive, saber que meu filho estava longe de mim, cair na realidade que estou perdendo os melhores momentos dele me dói.

Leo começou a pegar a linha de raciocínio do irmão. Mexeu-se inquieto.

_Eu já estive desse lado, Victor. E te garanto que isso passa.
_Diferente de você, eu não quero pagar pra ver.
_Você fala isso por causa desse amor que sente pela Priscila, e eu te entendo, pois quando estava com Tatianna pensava igual. Mas sabe que agora que me separei entendi que a melhor coisa foi não deixar um amor por uma mulher acabar com minha carreira.
_A Priscila não tem culpa nisso, Leo. Vamos deixar claro isso aqui. Até agora antes de eu sair e vir para cá ela me aconselhou a pensar se realmente era isso o que queria.
_E é isso o que você quer?
_Sim. Tenho toda a certeza do mundo que não quero mais isso.

Um silêncio estranho invadiu aquele lugar. O vento soprava forte indicando que aquela noite seria fria. Por pensamento Leo queria insistir mais um pouco, mas sabia que Victor não iria aceitar. Só restou-lhe aceitar e se conformar que não iria ter mais o irmão mais velho em cima dos palcos e sendo sócio.

_Precisamos ver com os contratantes, a gravadora, nosso empresário. Mas antes de tudo isso, quero que pense bem se é isso o que quer, Victor. Caso se arrependa não iremos deixar essa conversa vazar nem sair daqui.
_Vamos pensar nisso, afinal, temos esse ano para terminar nossos contratos, não quero renovar nada – levantou-se. – E precisamos falar com nossa mãe. Domingo poderá ir?
_Sim. Tatianna vem buscar os meninos no sábado. Então vai dar.
_Certo – Victor olhou para o horizonte firme e decidido – Então é isso. Até domingo.

Saiu sem olhar para trás, não viu uma lágrima que caía no rosto de Leo. Era o fim de uma parceria de anos. 

*

Victor ainda passou na fazenda, conversou com os funcionários. Ficou observando aquela noite linda enquanto bebericava o café. Antes de Pedrinho costumavam ficar ali, abraçados, Priscila ouvindo suas novas canções e conversando sobre tudo. Que falta sentia de quando a esposa não tinha compromissos além de ir visitar Tatiane. Parecia que tudo estava se tornando difícil.

Respirou fundo e pegou a estrada rumo a cidade. Parou o carro na garagem e enquanto caminhava para dentro da casa ouvia os gritos de Pedrinho. Este ao vê-lo tentou com os passinhos pequenos ir até o pai, que estava parado na entrada da sala. Priscila sorriu com a cena.

_Estava com saudade do papai? – encheu o rosto do pequeno com beijos.
_Hoje ele vai dar trabalho para dormir.

Priscila estava ansiosa para saber como foi a conversa e para prepará-lo sobre algo que teria que contar. Estava ciente que aquela noite seria um caos.

_Jantou na casa de Leo?
_Não.
_Então vamos. Vou esquentar algo – levantou-se

Com Pedrinho nos braços Victor sentou-se à mesa e sentiu clima estranho enquanto Priscila esquentava a janta. Ela não o olhava diretamente, estava puxando algum assunto aleatório para que não ir direto ao ponto.

_E aí, como foi a conversa com seu irmão? – sentou-se e foi se servindo.
_Aquilo que eu já imaginava, Priscila. Leo quer aproveitar a vida de solteiro, está adorando a agenda estar lotada, mas sequer pensa em mim.
_Eu já te falei que nossa vida não iria mudar em nada caso você queira continuar. Vocês tem jatinho, então pra mim vai ser natural como sempre foi te ver indo fazer um show e você voltar na mesma madrugada.
_Acontece que estou cansado disso, Pri. Não me sinto bem como antes. Eu quero acompanhar mais o Pedrinho. Já adquiri estabilidade financeira, então posso fazer isso sem me preocupar.
_Eu só não quero que lá na frente se arrependa de ter feito algo.
_Eu sei de todas as consequências, Priscila – se calou para não falar algo que a machucaria.
_Só estou te avisando... – a fala foi interrompida por a voz dele.
_Parece que você está querendo me ver mais tempo fora de casa.

Ela parou de comer só para analisar a expressão dele. Victor estava com raiva, isso ela deduziu.

_Jamais pense assim, Victor. Só te aconselho porque sei que isso foi o que você viver por anos na sua vida, sei que você sentir muito quando parar.
_Não precisa se preocupar comigo. Sei bem o que faço da minha vida.

O final do jantar permaneceram calados, Priscila sabia que se tocasse em outro assunto a confusão seria maior, mas Victor retomou quando estavam finalizando a refeição:

_E a Tati, veio aqui? Está tudo bem?
_Sim. Ela está focando muito no trabalho, mas disse que Cadu está querendo voltar.
_Espero que eles se resolvam. É muito triste ver um casal terminar assim.
_Sim – Priscila levantou-se

Ela evitou contato direto com Victor no olhar, mas ele sentiu que algo tinha a mais naquela história. Continuou sentado com o filho no colo vendo-a organizar a louça que iria lavar quando falou:

_Mas vocês ficaram só nesse papo de Cadu, relacionamentos, etc.?

Priscila continuou de costas para ele, pediu forças e virou-se para responder:

_Não. Na verdade ela veio aqui para pedir que eu voltasse a trabalhar.
_E você recusou, não é? – Priscila ficou calada. Ele entendeu como uma resposta – Pelo amor de Deus, Priscila! Parece que foi ontem que fiquei do seu lado, adiando uma viagem, isso tudo para te dar suporte após Tatiane te humilhar.
_Ela se arrependeu, Victor.
_E você acha que eles não vão voltar e entre ele e você ela obviamente vai escolher o Cadu?
_Victor, para com esses julgamentos! Eu vi sinceridade nos olhos dela...
_E com isso você vai logo aceitar um trabalho que ela te escorraçou?
_Ela é minha amiga
_E amigos são amigos, negócios são à parte! Parece que você não está aprendendo nada com o que estou passando com o Leo. – Levantou-se.
_Diferente de vocês, nós não somos sócias.
_Claro, é pior, você é funcionária.
_Não precisa me humilhar, Victor – alterou a voz.

Pedro vendo toda aquela conversa alterada começou a chorar.


_Eu não estou te humilhando, não deturpe minhas palavras!
_A verdade é que você nunca vai ser a favor da minha vida profissional porque seu sonho era me ver aqui vinte e quatro horas.
_Nós já conversamos sobre isso. Você pode muito bem ter seu trabalho, focar na sua carreira, mas voltar para aquele estúdio depois de tudo é muita burrice.
_Você está me chamando de burra?
_Sinceramente? Sim. Hoje você não está pensando na burrada que fará.
_Victor!
_Quer saber? Já chega. Não vamos discutir. Faça o que bem quiser da sua vida

Assim que Victor saiu Priscila começou a chorar. Ela nunca deu ouvidos às loucuras do marido, mas estava começando a questionar se realmente dessa vez fez o certo em aceitar voltar para o estúdio de fotografia da amiga. Para Victor, foi péssimo dizer tais palavras. Ele sabia que sua esposa era inteligente, o problema dela era ter bom coração.

Aquele clima se esticou até o final da noite, quando Priscila colocou o filho para dormir e foi tomar um banho para relaxar. Ao voltar para o quarto Victor estava lá, sentado na cama lendo um livro. Viu a esposa passar e fechar as cortinas. Precisava estender a bandeira da paz:

_Quando você volta ao trabalho?
_Amanhã – sentou-se na cama de costas para ele enquanto colocava creme nas pernas.
_Mas já? – alterou a voz.
_Sim, qual o problema? – olhou para ele por cima do ombro.
_Eu não vou falar mais nada – desligou o abajur do lado que estava, se cobriu com o lençol e deitou de lado, de costas para ela.

Priscila sentiu raiva. Detestava quando Victor usava seus tons de ironia ou era direto. Pensou em discutir com ele, mas fez o mesmo. Desligou o abajur, se cobriu e lhe deu as costas. Sentiu uma lágrima cair em seu rosto e deixou que outras caíssem livremente. Victor a ouviu fungar enquanto limpava o rosto. Ficou péssimo. Mexeu-se na cama e buscou o corpo dela para se encostar.

_Pri, fala comigo.
_Esquece Victor. Vai dormir.

Ele se inclinou para ligar o abajur dela, logo a virando e puxando para aninhar em seu peito enquanto fazia carinho no cabelo dela.

_Às vezes discutimos por atitudes de pessoas de fora do nosso relacionamento por eu querer te proteger demais, Pri.
_Eu não sou nenhuma criança.
_Mas às vezes age como uma. Sei que você gosta da amizade que tem com Tatiane e jamais quero te colocar contra ela, mas observa bem o que ela está fazendo com você.
_Você nem sabe o que ela falou e nem como falou.
_Então que tal me contar agora?

Priscila mordeu os próprios lábios se segurando para não chorar mais. Detestava quando Victor conseguia inverter a situação e ser amável. Sentiu-o afastá-la e sentar, ficando encostado na cabeceira. Sentou-se também.

_Primeiramente ela veio me dizer sobre o que aconteceu quando viu o Cadu. Em seguida conversamos sobre o estúdio e ela perguntou se eu queria voltar, que sentia minha falta. Mas também disse que entenderia se eu não voltasse. Sei lá, acho que não me encaixo mais nessa vida de dona de casa, Victor.

No fundo ele sentia orgulho em ver sua esposa tentando sua independência como mulher. Buscou a mão mais próxima para acarinhar enquanto falava:

_Você está descobrindo um novo mundo, Pri. Isso é normal. O problema é que tenho medo de te perder quando você quiser viver dentro desse mundo novo.
_Não vai. Eu jamais vou te abandonar. Mesmo sabendo que você vai ficar um velho ranzinza quando se aposentar dos palcos – riram juntos.
_Sei que não é corriqueiro te falar isso, mas... Eu amo te ver assim, mãe, esposa, mulher de negócios.
_Eu sei disso – lançou um sorriso para ele.
_Modéstia é o seu sobrenome – lembrou-se dessa frase que ela usou no início do relacionamento.
_Aprendendo com o rei do deboche – buscou os lábios dele.

Em meio a mãos bobas, beijos, risos, deitaram e logo adormeceram.

***

Priscila olhava para o céu, naquele início de manhã, completamente grata. Pedrinho em seus braços estava na fase de curiosidade e querendo mexer em tudo que via em sua frente. A porta da frente se abriu e ela viu Geane chegar com um sorriso perfeito. Admirava muito a babá do seu filho, era uma mulher responsável e antes de tudo, amiga.

_Eu estava com saudade desse ser pequenino aí – segurou o pequeno nos braços enquanto dava bom dia para a patroa.
_Geane, você é minha salvação! – riram juntas.
_Imagina, Pri. Tivemos que voltar logo de viagem porque a Clara teve febre, não quis arriscar.
_E como ela está?
_Bem. O susto passou, levei ela ao médico e ele pediu uns exames.
_Às vezes é só uma virose, mas sou mãe e sei bem como é quando eles ficam adoentados.

Ficaram paparicando Pedro quando ela olhou o relógio, já estava na hora de ir trabalhar.

_Geane, preciso ir, mas fica tranquila que Victor está aí. Ele vai ficar esses dias por aqui.
_Pode deixar. As meninas voltam quando?
_Em poucos dias. Eu já adiantei a faxina.
_Você limpou essa casa toda, Priscila? – a babá ficou olhando para a casa.
_Nem tudo – deu um riso engraçado. – Fiz o que mais precisava. Sabe como é, né? Casa quando fica muito tempo fechada gera uma poeira horrenda. Mas não se preocupa com isso. Quanto a almoço acho que Victor pede em algum restaurante para fazer entrega aqui.
_Nada disso. Vou cozinhar. Estava com saudade de cozinhar para vocês.
_Olha que isso me faz ficar atentada a desistir do almoço que eu terei com Tatiane e vir comer aqui, hein.

Riram com vontade. Era inexplicável como Geane se sentia em casa diante de Priscila. A patroa finalizou o assunto:

_Agora preciso ir se não chego atrasada no meu primeiro dia de trabalho. Tchau!

Falou breve com o filho e foi para a garagem. Estava com saudade do seu carro, nas férias tinha Victor para lhe levar aonde quisesse, então deixou o veículo durante muito tempo largado.

Enquanto transitava pelas ruas Priscila refletia sobre o que Victor havia conversado. De fato precisava ouvi-lo mais e entender que sua amizade com Tatiane estava um pouco abalada. Se quisesse respeito teria que impor, independente se estivesse na função de funcionária ou amiga. Levou esse mantra consigo e entrou no estúdio de fotografia decidida que não deixaria mais ninguém pisar em si.

_Um bom filho a casa retorna – Suzana abraçou-a
_Oi Su. Como estão todos?
_Bem. Já soube do babado com a Ivy né? – a funcionária logo mudou a expressão no rosto – Ih! Esqueci que você é amiga da patroa.
_Mas aqui sou funcionária. Ela ainda está aqui? – se referiu à Ivy.
_Não. Saiu no final do ano.

Priscila terminou de conversar com os demais funcionários sobre Ivy e foi até a sua sala. Sabia que naquela manhã Tatiane tinha uma reunião em chamada de vídeo e não quis atrapalhar. Focou no seu trabalho e as horas passaram rápidas. Só notou quando a amiga abriu a porta.

_Até que enfim! – abraçou-a – Estou morrendo de fome.
_Mas já é meio-dia? – olhou no relógio do celular.
_Sim. Vamos...

Foram ao restaurante próximo ao estúdio caminhando. Tatiane contava sobre as investidas de Cadu em querer voltar. Enquanto isso, Priscila mandava mensagem para Geane querendo saber se o filho havia se alimentado.

_Eu não sei se devo aceitar logo esse perdão dele – já dentro do restaurante Tatiane voltou ao assunto.
_Vocês devem é sentar e conversar sobre o que ocorreu. Não podem simplesmente voltarem e abandonar o passado. Foi nessa que eu e Victor levamos muito tempo para nos entender.
_Renata falou o mesmo. Disse que preciso conversar. Estou pensando em chamá-lo para jantar lá em casa hoje.
_Vai ser melhor assim. Espero realmente que vocês se acertem e sejam felizes.
_Obrigada, amiga.

Almoçaram ainda conversando sobre a vida. Priscila optou por não contar sobre a atual situação profissional de Victor e Leo. Não queria que algo vazasse mesmo sabendo que Tatiane era de confiança. Decidiram dividir a sobremesa e fazendo isso ela lembrou-se de Renata.

_Como ela está? Nunca mais veio por aqui.
_Ela está muito focada no trabalho, mas disse que em abril o Henrique vem fazer show por aqui e vem nos ver.
_Que bom...

Por mais que tentasse, Priscila sentia algo incomodar quando o assunto era a ex-namorada de Victor. Renata não lhe passava tanta confiança. Tentou esquecer aquele assunto, pois às vezes tinha vergonha dos seus pensamentos.

***

Victor parou o carro de frente para a casa de Marisa e Pedrinho soltou um grito fino. Priscila sorriu vendo o filho feliz. Lembrou-se das vezes que a sogra a salvou quando o marido estava viajando. Desceram do veículo e antes mesmo de apertar a campainha o pequeno apontou o dedo para quem aparecia na porta:

_Olha quem chegou!

Marisa segurou o neto nos braços e o envolveu de beijos. Em seguida abraçou-os.

_Pensei que voltariam a trabalhar e nem viriam aqui.
_Pois é, mãe. Ela voltou – Victor se referiu a Priscila.
_Espero que tenha aproveitado bem as férias, Pri.
_Aproveitei sim. Minha mãe te mandou um abraço – sentou-se no sofá.
_Sandra sempre sendo uma querida – Marisa os acompanhou e sentou junto no sofá. – E você, meu lindo. Tem aproveitado muito? – olhou para Pedro.
_Ele está arriscando dar alguns passos, está tentando falar, mãe.
_Então mostra pra vovó...

Marisa colocou Pedrinho no chão e segurou as duas mãos do pequeno. Priscila sentia muita segurança quando via o filho nos braços da avó. Ainda observando o neto tentar dar uns passos cambaleante, Marisa iniciou outro assunto:

_O Leo disse que vem almoçar também.
_Que bom. Só falta a Paula

Priscila olhou para Victor, não queria nem imaginar quando Marisa soubesse aquele disfarce todo quando na verdade estava tudo muito bem combinado. Mais um carro parou e logo Leo entrou. Falou brevemente com todos, segurou Pedrinho nos braços e olhou para Priscila. Esse pequeno gesto a fez ler mentalmente o cunhado. Sentiu que ele lhe evitou por achar que foi ela a culpada por Victor mudar bruscamente de vida.

_Chegaram em boa hora. Vou servir o almoço – Marisa foi à cozinha
_Eu te ajudo, Marisa.

Puxou assunto com a sogra sobre tudo da vida, sua descoberta na maternidade, pegou dicas. Estava se sentindo melhor ao lado de Marisa a ter que fica perto de Leo e seus julgamentos. O almoço seguiu com assuntos leves, coisas do cotidiano, família, trabalho de Priscila. Mais uma vez as duas deixaram os dois irmãos conversando enquanto limpavam a cozinha.

Por pensamento Priscila sentia pena da atual situação. Ela como mãe sabia que era muito doloroso ver irmãos se afastando, decidindo sobre um futuro incerto e no meio disso tudo era seu marido que tomou uma decisão que iria abalar todos. Ao chegar na sala viu os olhares que os dois deram, era o momento. Segurou Pedrinho nos braços e pediu para que Marisa autorizasse ela a dar um banho no filho e colocá-lo para dormir.

_Vá para o quarto que era de Victor, Pri.
_Com licença – se retirou dali.

Victor respirou fundo e olhou para Leo. Marisa entendeu.

_Está tudo bem entre vocês? Não me digam que estão em mais uma encrenca? – lembrou-se do passado quando Otávio ameaçou a dupla.
_Acho que está tudo bem, mãe, mas precisamos te contar algo – Leo criou coragem e anunciou.
_Melhor irmos para o jardim – Victor indicou.

Os três caminharam calados, foram até a área externa e sentaram nas cadeiras que existiam ali. Victor sabia que Priscila não compactuava com sua ideia e não iria querer ouvir de onde estivesse.

_Agora sem enrolação. Contem tudo.

Com Marisa impondo, eles se olharam, respiraram fundo. Leo iniciou:

_Acho que a senhora sabe que eu e Victor discutimos em nossa viagem à Londres.
_Como sempre fazem e eu sempre falo que isso é errado. Antes de serem sócios vocês são irmãos.
_Eu sei mãe, mas certas coisas são impossíveis de não acontecer. E... o Victor tomou uma decisão – jogou para o irmão.

Marisa mais uma vez ficou calada observando o filho mais velho. Estava visivelmente nervoso, olhando para as mãos sobre as pernas, erguendo o rosto e olhando para a grama ali próxima ao lago. Ele criou coragem:

_Quero que saibam que essa minha decisão não foi a partir daquele dia, já estava se enraizando dentro de mim e só ali criei forças para fazê-la acontecer.
_Meu filho, seja lá o que for, tem meu apoio – Marisa buscou a mão do filho, apertando-a.
_Obrigado, mãe, mas acho que depois do que vou dizer aqui será um pouco difícil. – Respirou fundo – Sem delongas, quero que saiba que antes de tudo, eu sei que entre mim e Leo existe o carinho de irmãos, o amo incondicionalmente, mas como sócios já não somos tão compatíveis. Estudei muito para ver se realmente era essa a decisão certa, mas não existe alternativas. Eu estou em uma fase da minha vida que preciso e quero descansar, ficar mais próximo do meu filho, acompanhar seu crescimento.

Victor queria que Marisa entendesse para não falar duramente, mas a mãe ficou com uma expressão confusa.

_Vocês estão me dizendo que vão pausar mais nas atividades da dupla, é isso?
_Não mãe. O Victor quer parar de cantar, quer largar tudo o que construímos durante anos... – Leo foi interrompido por Victor.
_Jamais quero esquecer-me de tudo o que vivemos, Leo. Eu só quero sossego, quero dar uma pausa na carreira para descansar minha mente. Estou cansado fisicamente e psicologicamente. Sei que se continuarmos nesse pique não suportarei nem mais um ano.

Marisa estava triste, ela viu todo o crescimento profissional dos filhos e em sua mente passou um filme de todas as conquistas.

_É isso mesmo o que quer, Victor? Seja sincero comigo.
_Sim mãe. Eu estou muito cansado.

Leo baixou a cabeça, tentou se acalmar para não discutir com Victor mais uma vez. Levantou-se decidido a ir embora.

_Preciso ir, tenho algumas coisas para resolver hoje.
_Leo, fique. Quase não vejo vocês dois aqui em casa e ao mesmo tempo.
_Deixa pra outra hora, mãe. Vou nessa.
_Eu te levo na porta.

Victor aproveitou o momento sozinho para refletir. Sabia que o irmão ficou triste, desapontado com sua decisão.

Assim que Leo saiu Marisa andou devagar pela casa, viu que Priscila estava com Pedrinho no quarto. Aproveitou a deixa para puxar assunto com o filho mais velho. Sentou-se novamente próximo a Victor.

_Leo está abalado.
_Eu sei, mãe. Para ele estar vivendo para o trabalho é ótimo, o faz esquecer da decisão da separação dele com Tatianna. Não estou o proibindo de pausar as atividades junto comigo, muito pelo contrário, vou apoiá-lo em qualquer projeto que ele escolher.
_Mas ele sabe que sem você vai ser difícil.
_Uma hora isso iria acontecer. Não vou viver eternamente em cima de um palco.

Se calaram por alguns segundos, Marisa tornou a falar em um tom baixo, quase inaudível:

_Seja sincero comigo, Victor. É por causa dela que você está tomando essa decisão?

Victor sentiu um choque ao repetir para si mesmo a pergunta da mãe.

_De quem está falando?
_Priscila.
_Mãe...
_Sabemos que aquela viagem sua no réveillon fez ela ficar mal. Claro que como toda mulher há ciúmes dessas viagens, as melhores datas festivas do ano você não estar presente...
_Não mãe. Eu estou decidido a fazer isso por vontade própria.
_Você pode tentar se enganar, mas a mim não engana. Eu sinto que essa calmaria de Priscila na nossa frente no fundo é só de fachada. Ela deve ter feito muita pressão pra você se aposentar dos palcos...

O que Marisa não imaginava era que Priscila tinha visto quando Leo foi embora e deduziu que o assunto tinha terminado. Aproveitou que Pedrinho estava dormindo e foi até eles, mas parou na metade do caminho quando ouviu seu nome ser mencionado e ficou ouvindo o resto da conversa. Victor a defendeu:

_Vocês acham que foi ela que me fez ter esse pensamento, mas fique sabendo que há dias, na verdade desde quando ela soube, que me pede pra pensar se realmente é isso o que quero.
_Se você está dizendo eu não falo mais nada. Só espero que não se arrependa mais na frente...

Priscila aproveitou que se calaram para entrar no quintal caminhando em passos firmes para que eles não falassem mais nada. Sentou-se ao lado do marido e logo sentiu um incômodo, sua sogra não olhava diretamente para ela.

_Pedrinho dormiu? – Marisa ergueu o rosto com um sorriso forçado.
_Sim. Conseguiu.
_Acho melhor irmos, Pri – Victor falou em um tom de voz triste.
_Mas já? – tentou disfarçar.
_É melhor, tenho que ler uns papéis de contrato. – Levantou-se.
_Vocês bem que poderiam deixar o Pedrinho aqui.
_Seria uma boa, dona Marisa, mas acho que ele vai se assustar sem minha presença.
_Semana que vem podemos deixá-lo aqui e ir a casa de Tatiane à noite. O que acha? – Pela primeira vez naquele dia Priscila viu Victor tentar um sorriso.

Aquela pergunta seria ótima se ela não tivesse ouvido aquela conversa entre a sogra e o marido. Estava realmente precisando de uma noite de descanso com Victor e amigos, mas desanimou após tudo. Simulou um sorriso pequeno fingindo amar a ideia.

_Claro! Vou falar com a Tati sobre isso. A senhora pode ficar com ele?
_Se posso? Vou amar! – sorriu com alegria.

Se despediram de Marisa e Priscila ficou o caminho todo de volta para casa com aquele assunto remoendo dentro de si. Não queria discutir com Victor algo envolvendo a mãe dele, sabia que ele iria defendê-la e com razão. Chegaram em casa e enquanto o filho estava dormindo ela foi para o próprio escritório editar alguns ensaios que havia feito. Continuou incomodada e aproveitou que Victor não estava ali para deixar as lágrimas caírem.

Naquela tarde e noite Priscila tentou refletir aquele assunto, se imaginou no lugar de mãe que Marisa estava naquela situação. Sabia que anos depois iria passar o mesmo com Pedrinho. E se sua futura nora não passasse confiança? Se não gostasse dela, mas pelo filho fizesse o máximo para suportá-la? Acordou do transe com a porta se abrindo e Victor segurando a maçaneta:

_Vou pedir pizza. Pode ser?
_Claro.

Jantaram calados, Pedrinho já tinha acordado e estava balbuciando algumas palavras que eles não entendiam. Victor sentiu que algo estava errado ali. Priscila estava cabisbaixa, o pediu para ficar o resto da noite com o filho usando a desculpa que estava trabalhando, mas ela havia voltado ao trabalho apenas três dias atrás. Não tinha tanta coisa que a fizesse abdicar daquele domingo à noite com o marido e filho.

Victor tentou fazer o filho dormir, mas isso só aconteceu depois de duas da madrugada. Ao entrar no quarto viu a esposa lendo um livro. Tomou um banho e sentou-se encostado à cabeceira e notou que ela não saía de uma página.

_Quer conversar? – buscou a mão livre dela.
_Não. Estou lendo – sequer conseguiu o encarar.
_Jura? Ou está tentando me evitar? Percebi que não passou da primeira página desde que entrei e que está para em um parágrafo.

Priscila respirou fundo. Sabia que viria briga.

_Eu só estou pensativa, Victor. Acho que seria legal fazer a festa do Pedrinho aqui, no salão onde fizemos a festa de final de ano.
_Meter um assunto aleatório só para me enganar, Priscila?
_Você está vendo coisa onde não tem – sentiu que foi hostil com ele.
_Eu estou vendo que algo te incomoda e não quer me dizer, pois nunca te vi falar sobre uma festa em um tom tão melancólico assim.

Ali era a hora da verdade. Ela sabia disso. Respirou fundo e sem olhar para ele, ainda focada naquele parágrafo do livro, sussurrou:

_Eu ouvi a conversa de vocês.
_Sobre? – incitou ela a falar em detalhes.
_Sobre eu ser a culpada de você largar os palcos.
_Pri...
_Eu sei, Victor. Sua mãe já não me suporta e agora vai ser pior...
_De onde tirou isso? Minha mãe nunca me disse isso, ela apenas está achando algo que não é verdade.
_Mas pelo rosto do Leo quando falou comigo com certeza é mais um que também está pensando isso.
_Foda-se! Eles ou qualquer um pode falar mil vezes que mil vezes te defenderei!

Priscila o encarou com os olhos rasos de lágrima. Ali foi o limite para desabar. Victor abraçou-a de lado enquanto ela deixava o choro vir livre.

_Vai ser difícil, Pri, mas teremos que suportar isso. Minha mãe jamais teria motivos para te odiar, ela só está triste por ter visto toda a nossa trajetória como dupla. Nos momentos mais difíceis quando ninguém nos apoiava ela estava ali conosco.
_Eu sei – buscou se acalmar para falar, mas ainda resfolegava em meio ao choro – Hoje assim que cheguei aqui em casa me imaginei no lugar dela. Acho que também faria o mesmo.
_Então fico mais tranquilo em saber que não terei que presenciar uma guerra entre vocês e ter que ficar dividido.
_Não vai. Pode ficar tranquilo – limpou o rosto. – Obrigada por isso.

Recebeu o beijo que ele deu em seu rosto e ficaram em silêncio se acariciando.

_Já parou pra pensar que Pedrinho daqui uns anos terá namorada e eu posso não gostar dela?
_Priscila, ele só tem alguns meses de vida.
_É sério! Não quero que alguém venha a machucar meu filho – sentiu as lágrimas mais uma vez caírem.

Victor caiu na gargalhada vendo a esposa falar sobre um futuro que ainda iria demorar muito a acontecer. Abraçou-a com força, logo buscando um beijo. Em meio a carícias se amaram e logo adormeceram.


***

Aquele sol escaldante Priscila só perdoou porque estavam chegando em uma fazenda linda, por sinal. Desceu do seu carro e sentiu aquele vento que só em lugares campestres lhe proporcionava, seus cabelos livres serpenteavam, lhe traziam paz, mas a voz de Alice lhe acordou:

_E vamos para mais um dia ensolarado daqueles.

Priscila acordou do transe observando os outros dois carros chegando e os funcionários do estúdio retirando seus equipamentos. Abriu o porta mala e ajudou Alice a também retirar os equipamentos e logo estavam estudando o local. O que soube era que o cliente queria fazer um álbum de fotos que remetesse ao campo. Já imaginava ser algum fazendeiro ou empresário do ramo do agronegócio. Ledo engano! Mesmo o rapaz saindo de dentro da casa e sendo longe do lugar que estava foi o suficiente para sentir suas pernas fracas e o coração bombeando. William vinha em passos lentos, trajando uma calça jeans colada no corpo e revelando suas coxas torneadas e com um sorriso ousado quando avistou Priscila.

_Bom dia a todos! – aproximou-se de um grupo, batendo de leve no ombro de um dos fotógrafos.

Parecia louco, mas Priscila recordou em poucos segundos aquela cena na sala do estúdio onde ambos estavam a sós, ele de sunga para uma tomada de fotos moda praia e ela com olheiras, cansada. Sentiu todo o fervor, mas sabia que era normal, pois bastava ver Alice – a estudante de fotografia que estava estagiando em sua equipe – sussurrar algo inaudível, mas que era bem alguma cantada ao ver o belo rapaz. William se aproximou das duas:

_Priscila. Acertei? – mais uma vez fez um belo sorriso enquanto segurava a mão dela para cumprimentar.
_Isso! Tudo bem?
_Sim. Melhor agora... – olhou para a aliança na mão esquerda dela. Optou por mudar de foco olhando para todos ao redor – Afinal, fico feliz em Tatiane ter mandado a melhor equipe para as minhas fotos.
_Estamos analisando o melhor lugar – um dos fotógrafos puxou o assunto
_Querem alguma dica?
_Fique à vontade, William. Até porque as fotos serão suas
_Antes de tudo, entrem. Vamos tomar uma água, suco, café. O que quiserem. Pedi para a copeira fazer um lanche.

Todos seguiram para a casa e por ali ficaram conversando. Priscila aproveitou o momento para mandar mensagem e saber como o filho estava. A saudade apertava seu peito quando tinha que deixar Pedrinho e ir trabalhar. Sentiu alguém próximo de si.

_Eu acho que esse cara deve ter uma grana muito boa. Já viu que aqui tem até quadra de futebol? – Alice parecia querer não largar do pé de Priscila.
_Olha, não sei bem o que ele faz, mas realmente deve ser dinheiro dos bons.

Foram interrompidas por William se aproximando com um copo contendo algum drinque, Priscila só sabia que era algo que tinha morango.

_Prova. Fiz para você

Priscila sentiu o incômodo através do silêncio que Alice fez ao observar o tamanho de intimidade que ele estava mostrando ter com ela.

_O que é?
_Caipirosca de morango, ideal para esse calor.
_Obrigada, Wiliam, mas estou amamentando ainda.
_Acho que não tem problema, ela está bem fraquinha.
_Mais uma vez, muito obrigada, mas não bebo em trabalho.

Alice segurou o copo e com um olhar ousado falou:

_Se ela não toma, não farei essa desfeita com você. Posso beber e não sou casada nem amamento.

Aquela cantada barata fez Priscila revirar os olhos internamente. Estava óbvio que o belo rapaz queria qualquer uma, menos aquela adolescente que seus trejeitos lembravam muito Laisa, o inferno loiro que ficou durante meses na vida dela. A bela jovem não se intimidou quando William apenas sorriu educado e continuou a falar:

_Sua fazenda é linda. Faz tempo que tem ela? A propósito, você vende droga?

A gargalhada do rapaz e Priscila foi inevitável.

_Como assim, mocinha?
_Alice, isso não são modos de falar com um cliente. Regra número um – Instruiu a estagiária.
_Ué, eu só estou curiosa, porque a pessoa nascer em uma só vida e ser rico e bonito desse jeito algo está errado. – Jogou o longo cabelo para o lado.

William olhou para as duas e logo voltou as atenções para o horizonte enquanto falava:

_Essa fazenda na verdade é do meu pai, da minha família. Somos bem de vidas sim, graças a Deus, mas tudo foi o esforço dele quando ainda éramos crianças, eu e minha irmã.

Alguém da equipe interrompeu a conversa e logo seguiram para a área externa. No meio do caminho Alice mais uma vez colou em Priscila e voltou a conversar sobre o belo rapaz:

_Impressão minha ou vocês têm alguma intimidade?
_Impressão sua, Alice. – Deixou bem claro antes que qualquer fofoca viesse a viralizar – Eu sou amiga da Tati, e ele é amigo dela e do Cadu. Então acho que pensou que poderia vir com intimidade para meu lado.
_Entendi...

Voltaram as atenções ao trabalho. Em cada foto ela ficava petrificada em como William tinha nascido para aquilo, o rapaz conseguia fazer caras e bocas sem nenhum esforço. Entre uma troca e outra de roupa o mulheril presente ali suspirava.

_Pri, vai tirando essa tomada de fotos. Vou ligar aqui o notebook para ver como ficaram as fotos anteriores – um dos fotógrafos pediu.

Priscila aproveitou para ensinar Alice a como manusear aquela câmera profissional, ainda deixou ela tirar algumas fotos. Ao final, todos se reuniram na sala e mostraram o resultado para o belo rapaz.

_Caso você queira, podemos tirar outras fotos.
_Está ótimo assim, Priscila. Eu gostei elas assim sem edição, já imagino como ficarão prontas.
_Então acho que por aqui terminamos. Vamos? – indagou para a equipe
_Se quiserem ficar posso providenciar o nosso almoço
_Obrigada, William, mas já ocupamos seu espaço demais.

Durante a saída todos se reuniram em quem iria em qual carro. Priscila estava em seu momento antissocial, tudo o que queria era ver seu filho por um momento enquanto almoçava na sua casa.

_Pri, vou com você – Alice já foi se aproximando do carro
_Não, Alice. Desculpa, é que eu vou para casa, não vou almoçar com vocês.
_Ah, entendi. Então ok, nos vemos mais tarde.

Aquele olhar que a garota fez intrigou e muito Priscila, achou estranho. Estava guardando os equipamentos em seu porta mala quando viu os demais carros saindo da fazenda.

_Quer ajuda? – William estava ali sem ela ter notado.
_Obrigada, mas já consegui guarda – fechou o porta mala, estava indo para o lado do motorista quando ele se aproximou.
_Eu fiz essas fotos para escolher uma e colocar no meu convite de aniversário.
_Você completa quando? – perguntou por educação, mas estava louca querendo sair dali. Em sua mente já alertava perigo em letras garrafais.
_Dia dez do mês que vem, mas só vou comemorar dia treze. Queria saber se gostaria de vir
_Está me convidando?
_Sim, o que mal tem nisso?

Todas as festas que Priscila participou sem a presença de Victor foram as maiores furadas da sua vida, isso ela sabia. Ele completou o que iria falar:

_É uma festa intimista, só amigos e familiares que virão. Será aqui

Rapidamente buscou uma resposta sem que fosse indelicada.

_Nesse dia meu marido estará na cidade e sabe bem como é, quero aproveitar com ele.
_Tudo bem, mas quando quiser vir aqui fique à vontade. É só ligar para mim, tem o meu contato no WhatsApp da empresa.
_Obrigada. Eu vou indo – abriu a porta e entrou no carro.

William fechou a porta dela que já tinha baixado o vidro da janela. Ele se aproximou dela.

_Se cuida, Pri.
_Obrigada

Ele a olhou tão profundamente que se sentiu despida e com um fogo incomum em seu corpo. Precisava sair dali. Ligou o carro e sumiu da zona de perigo.

 


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