Terceira Temporada - Prólogo





Terceira temporada –Prólogo


Victor...


Eu era apenas mais um na multidão!


Assim que cheguei à casa de show falei brevemente com alguns conhecidos. Ao meu lado, minha mãe e Paula. Entrei no camarim e logo partiu meu coração. Tivemos a mesma energia enquanto eu e Leo nos olhávamos, era algo inexplicável, uma dor fora do comum.


Por um milésimo de segundo várias imagens se passaram em minha cabeça, acontecimentos de dois anos atrás. Eu era feliz e não  sabia, isso era fato, mas não sabia que algumas pessoas em minha vida fariam falta. Houve um momento em que eu tive prestígio, mulheres, e até mesmo reconhecimento no campo musical, mas hoje eu era apenas mais um compositor que com o reconhecimento do público algumas músicas ainda tocavam nas rádios, mas sequer financeiramente eu  tinha esse tipo de reconhecimento.


_Nego Véio! – Leo sussurrou assim que nos abraçamos.
_Como está?
_Caminhando... – virou o rosto e escondeu sua felicidade para que aquilo não me afetasse muito.


Eu optei por ficar calado e ouvir nossa mãe e irmã falarem algo sobre aquela turnê. Brevemente  Paula citou o nome de Tatianna e eu vi um brilho diferente nos olhos do meu irmão, mesmo com a fama de “novo pegador do momento” era naquela mulher  que o Leo era louco. Lembrei-me de várias fases da vida daquele casal, o quanto sofreram juntos, mas também tiveram a felicidade.


_Não vamos interromper o atendimento aos fãs  - após o produtor entrar não precisou nem falar para nossa mãe entender e já estar se encaminhando para a porta.


Segurando minha mão, nós saímos daquele camarim rumo à mesa que nos aguardava. Aquela era a primeira provação de que minha tentativa vã de querer ser anônimo nunca deu certo. Aqueles meses eu procurei ficar afastado de tudo, de shows que meu irmão fazia, justamente por não estar preparado psicologicamente. Por insistência da parte de Paula eu decidi  criar coragem, sair do meu mundo de amigos, farras e bebidas, e ver com outros olhos como estava o Leo Chaves, o cantor que nos últimos meses atraía multidões para seus shows.


Não tive nem tempo de entrar na área onde ficavam as mesas para  ver um rosto muito conhecido e sentir o meu coração bater depressa demais. Priscila estava linda antes mesmo de eu olhar para seus trajes. Santo Deus! Como perdi essa  mulher? Confesso que senti ímpetos de ir até àquela  mesa, afinal, meus amigos estavam ali com as suas esposas, porém, me controlei e segui para nossos lugares.


_Eu sei que você sentiu o coração bater forte por alguém que está ali atrás – Paula sentou-se perto de mim e sussurrou.
_Não senti nada, estou bem – aproveitei que o garçom servia minha taça com champanhe e dei um longo gole para criar forças e falar em um tom audível onde apenas minha irmã ouvisse – Ela é a mãe do meu filho.
_Ah, esse orgulho que mata a expectativa de vocês... – Paula parecia querer me irritar com aquele assunto.


Estava prestes a discutir ali mesmo com minha irmã quando uma moça aparentando ter seus  vinte anos parou próxima a mim e falou em um tom baixo na voz:


_Victor? Posso tirar uma foto com você?


Por um breve momento  eu pensei  em dizer  não, alegar que não era mais o cantor, mas lá dentro de mim, no fundo, eu me senti feliz por ser reconhecido. 


_Claro – levantei-me


Segurei o celular da moça e mirei em nossos rostos. Após isso ela sorriu e me agradeceu, mas aquela cena parece ter ativado a coragem em mais de uma pessoa. Mais fãs chegavam e pediam fotos, autógrafos nos nossos CDs antigos. Eu não tinha mais o segurança que na época em que cantava estava  comigo sempre segurando uma lanterninha para no escuro conseguir  autografar, então Paula fez aquele serviço por mim. Ligou seu próprio celular e mirou na minha direção.  A sessão de fotos e autógrafos acabou e com isso criei coragem para ir naquela mesa.  Priscila assim que me viu sorriu e eu me recordei daquele camarim aonde nos vimos pela primeira vez.


_Boa noite – desejei a todos ali.

Olhei para cada um na mesa, Tatiane e Cadu, Bruno e Maya eram aquele tipo de casais que eu sentia orgulho de ter acompanhado a trajetória. Renata estava sozinha, pois havia me contado que naquela noite Henrique teria show. Lembrei-me de o quanto ela foi meu porto seguro naqueles últimos meses, lembrei também daquele fim de semana onde ficamos Florianópolis. Ela também se lembrou, disso eu tenho certeza, porque me lançou um sorriso perfeito enquanto se levantava e me abraçava.


_Oi querido – sussurrou em meu ouvido.


Tive  que me controlar para não ter uma ereção instantânea enquanto sentia seu corpo tão quente próximo ao meu. Ninguém poderia saber o que houve naqueles dias onde revivemos tudo. Afastei-me dela e logo olhei para Priscila que também se levantava. Nossos olhos conversavam sem nem precisar dizer uma palavra.


_Como você está? – abraçou-me com carinho e amor, suas mãos na nuca entregavam a tradução daquele sentimento.
_Estou bem – afastei-me e a olhei profundamente – E Pedrinho?
_Deixei com a mãe da Tati. Insisti para Geane vir, mas ela disse que iria aproveitar o fim de semana com os filhos.


Mais uma vez ela deu aquele maldito sorriso e eu perdi a noção do tempo. Eu queria beijá-la, despi-la e fazer amor como há tempos não fazíamos, mas ela devia estar me olhando naquele exato momento como um fracassado. Com as cortinas se abrindo e o show do Leo se iniciando não me restou alternativa a não ser sair dali e voltar para a minha mesa.


Voltei a me sentar à mesa dos meus familiares e em meio a salvas de palmas, gritos por todas as partes, Leo entrou no palco, sua voz trazia vida às músicas que juntos gravamos no passado. Era nítido como ele em tão pouco tempo levantou uma multidão e se as casas de shows lotavam era por causa dele que com seu carisma cada dia mais focava e trazia novos fãs. Em meio a toda aquela apresentação por vezes me peguei no mundo da lua, pensando em todos os anos de carreira onde sofri, mas também houve bons momentos onde nos divertimos. Em um momento do show, Leo deu uma pausa para agradecer a todos ali, agradeceu  à família e finalizou:

_Antes de começar a próxima canção eu gostaria de pedir – ele olhou para nossa mesa – Nego Véio, vem pra cá.

Eu não iria, mas olhei ao redor e o que vi me fez arrepiar o corpo inteiro. Não existia uma mesa, ou alguma pessoa naquela casa de show que não chamasse meu nome. Ainda sem jeito subi ao palco. Como os músicos eram os mesmos desde a época de quando eu tocava então já sabiam meus gostos e minhas manias. Ajustei o violão, dedilhei e após alguns acordes vi qual seria a próxima canção.

“Meu Eu Em Você” não era apenas uma canção, era tudo o que eu sentia por Priscila, não destinei meu olhar para ninguém enquanto tocava e cantava a não ser para ela, que também havia entendido o recado e por um breve descuido deixou os olhos ficarem marejados. Eu queria muito que ela entendesse que não existia ninguém melhor do que nós dois  quando o assunto é o amor.  Logo após a música terminar continuei tocando algumas e levantando todos daquelas mesas. Minha participação naquele show foi mais rápida do que pensei, após algumas músicas para relembrar desde o início da nossa carreira até os últimos CDs, voltei para a mesa da família. Parecia louco da minha parte, mas eu sentia minhas costas queimarem e sabia bem que era por causa de Priscila, ela com certeza estava me encarando.

Assim que o show terminou nos levantamos e ao olhar para trás a mesa que eu achei que estivesse todos restou apenas Renata e Tatiane. Dali em diante optei por voltar para uma sala de espera e aguardarmos Leo sair do camarim, ele iria atender mais pessoas. Paula estava conversando com uma amiga enquanto bebia champanhe e eu aproveitei para deixar meus pensamentos divagar. Eu sentia muita falta da minha esposa, recordei-me do apoio que ela me deu quando decidi pausar a carreira. Os meses seguintes foram os piores, eu me sentia como se estivesse em uma clínica de reabilitação, sentia falta do meu violão, do palco, da multidão. Talvez nosso casamento faltasse isso, a falta, a saudade... por isso ela procurou outro para se divertir. Mas naquele momento eu sentia saudade dela, sentia falta dos seus beijos, sua voz falando sobre qualquer coisa do cotidiano. Eu a perdoei.

_Está tão concentrado no seu mundinho que nem observou que cheguei.

Senti aquele perfume feminino assim que inspirei e fiz um sorriso involuntário. Renata era delicada até mesmo no perfume que usava. Era um cheiro que onde quer que eu estivesse e sentisse logo me levaria àquela mulher bela. Virei meu rosto e ela estava do meu lado, sentada tão próxima que eu me perguntei como podia estar pensando em uma mulher, a perdoando no coração, se desejava também aquela outra que era tão íntima?

_Desculpe. Como está? – indaguei para começarmos um assunto proveitoso.
_Bem. E que milagre esse de te ver por aqui, em meio à multidão?
_Olha, eu sei que tenho certa aversão a esses lugares, mas hoje é uma noite especial.
_Sim – olhou para Marisa que conversava no celular com alguém – Não sentiu saudade quando subiu ao palco?

“Você um dia sentirá falta disso tudo, Victor. Escreve o que estou te falando” Rapidamente meu pensamento recordou-se da noite em que fiz meu último show, mais precisamente no quarto de hotel e Priscila falando exatamente isso enquanto tirava seus brincos e guardava-os.

_Claro – sorri timidamente –, mas estou bem assim, nessa condição.

Eu e Renata nos olhamos profundamente, da minha parte já sabia qual intenção era, e ela prontamente conseguiu ler meu raciocínio:

_Victor...
_Só hoje, Renata – coloquei minha mão sobre a sua que estava em cima de sua perna.
_Eu fiz uma promessa para mim mesma de que isso não vai mais acontecer...

Nunca fui de insistir nem mendigar carinho por ninguém, exceto Priscila, e com Renata não seria  diferente.  O problema foi que eu vi um brilho diferente em seus olhos e não era nada que se referisse ao que nós vivemos, ou talvez fosse.

_Estou feliz que tudo esteja bem entre vocês – ela tinha o dom de mudar o assunto para que eu não perguntasse o motivo de sua tristeza.
_Sim, eu e Priscila somos pais do Pedrinho, não quero inimizade – senti um movimento ao meu lado e ela já estava de pé – Para onde vai?
_Para casa.
_Eu te levo – levantei-me também. – Estou bem preocupado com você.
_Não precisa, estou de carro – sorriu ainda com aquele brilho triste nos olhos – Eu vou ficar bem. Tchau, querido.

Seu abraço foi aconchegante e ao mesmo tempo desesperador. Renata me abraçava com força, queria me dizer algo, porém, não conseguia. Para tentar instigar mais, puxei assunto enquanto a levava até a porta da sala:

_Ela está aí com você?
_Não, ela foi para a casa de Tatiane. Eu vim aqui bem rápido para falar com o Leo e já estou de saída.

Foi uma despedida fria, eu próprio senti isso. Senti uma mão em meu braço e lá estava minha mãe.

_Porque a Renata não ficou mais?
_Disse que precisava ir para casa.
_Tudo bem. O Leo está nos chamando.  

Mais uma vez entrei naquele camarim e uma dor me açoitou por dentro. Uma foto imensa do Leo estava estampada ali acompanhada com sua logomarca e seu nome.

_Nego Véio, valeu por ter vindo me prestigiar. Amanhã eu vou pra Uberlândia...
_Não vai conosco? – Paula o interrompeu.
_Não Paulinha, tenho outros compromissos...

 E se eu bem conhecia o meu irmão esse outro compromisso tinha mulher no meio, mas nem eu sabia mais qual era a “fã” do momento que ele estava pegando. Leo voltou a olhar para mim enquanto continuava a falar:

_Amanhã volto pra Uberlândia, passa lá em casa. Pode ser?
_Sim – já sabia que ele iria precisar de mim em algum novo arranjo musical.
_E... – baixou mais a voz para que somente eu ouvisse – a mãe também está indo pra Uberlândia, se quiser pegar uma carona no jatinho.

Agora alguns bens que possuía eu havia passado minha parte para o Leo justamente por ele precisar. E sinceramente? Era bem humilhante ter que viajar em voos comerciais. Lidar com multidão não era meu forte.

Agradeci e logo saímos do camarim. Já dentro do aeroporto eu me peguei pensando em Priscila. Como um amor tão lindo terminou em traição das duas partes? Como um dia eu casei fazendo inúmeros planos e nos dias atuais não existiam mais nenhum? Aquilo estava me remoendo por dentro porque agora eu sentia falta não só de Priscila, mas do meu filho. Em meus pensamentos eram um só: Reconquistar a mulher que amei e amo.

Virei meu rosto e encontrei minha mãe lendo alguma mensagem no celular, ela poderia me dizer se Priscila também estava naquele aeroporto. Afinal, ela e Tatiane sempre embarcavam juntas. Eu poderia sugerir uma carona, aquilo seria um ótimo começo:

_Mãe, sabe me dizer se Priscila também vai voltar pra Uberlândia ainda hoje?
_Não – ela parou de ler a mensagem e virou o rosto para me olhar. – Antes de sair da casa de show ela me disse que vai passar esse fim de semana na casa da Tati e só volta no domingo a noite.

***

Aquele fim de semana eu utilizei apenas para bolar o meu plano de como tentar ter Priscila de volta. Ainda lhe mandei uma mensagem perguntando sobre sua volta, usei como desculpa de que queria ver Pedrinho e ela só respondeu no final da tarde do domingo:

“Estou chegando aí no final da noite.”

Com aquela mensagem fria eu não iria desistir. Sabia que ela queria o mesmo, só estava um pouco chateada com a situação que causei quando decidi pedir a separação. E no fim daquela noite de domingo, mais precisamente às onze e meia da noite, estava apertando o interfone e recebendo como resposta ela abrindo a porta para mim.

Aquela casa um dia fora minha, foi lá que eu vi Pedrinho dar os primeiros passos, sorrir pela primeira vez, e até falar pela primeira vez. Porém, aquilo tudo fugiu da minha lembrança quando eu vi o traje que Priscila estava: Ela estava de camisola, aquela que eu lhe presenteei na nossa primeira lua de mel, em Paris.

Perdi completamente o chão enquanto ficava olhando de forma tarada para a minha ex-esposa.

_Entra, hoje essa noite está muito fria.

Segui seus passos até a parte interna da casa e no  meio do caminho olhei para aquela piscina. Fizemos amor ali, embriagados não só pela paixão, mas pelo uísque que eu havia ganhado. Mais uma vez saí do meu mundo de lembranças por causa da sua voz quando entramos na cozinha:

_Desculpa não te explicar, mas o Pedrinho está dormindo. Durante o voo ele ficou acordado – falou antes de beber água no copo.
_Devia ter me dito quando abriu o portão – fiquei circulando por aquela cozinha e pela janela avistando a grama macia.
_Eu não queria ser aquele tipo de ex-esposa chata, Victor. Achei que você iria pensar que eu estava mentindo, mas se quiser conferir pode subir e ver com seus próprios olhos.
_Sua palavra já basta para acreditar – virei-me e a olhei. Aquela porra daquela camisola estava me deixando excitado.
_E o que achou do show do Leo?
_Eu gostei.
_Não passou em sua cabeça de voltar aos palcos?

Aquela pergunta me acertou em cheio, eu estava sufocado demais. Desabafei:

_Sim – procurei um banco mais próximo para sentar – E eu quero toda a minha vida de volta... inclusive você.

Priscila quase se engasgou com a água, logo esbugalhou os olhos assustada. Segui firme:

_Eu não suporto mais, Pri – segurei ao máximo para não chorar, mas os olhos entregavam que isso iria acontecer – Volta pra mim?
_Victor... – me repreendeu com um olhar de compaixão, mas eu a interrompi.
_Daquela vez voltamos, eu iria até o inferno para te ter de volta e agora eu sei que vou conseguir de novo.

Ela queria me dizer algo, e antes que eu pensasse em sair daquele banco veio a pior dor no meu coração:

_Eu já tenho alguém na minha vida, me desculpa.

O mundo ali parou para mim. Até mesmo a vontade de viver...

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